quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

sete meses.



O melhor era o amanhecer. Ela levantava da cama e saia nua, esticando os ossos das mãos e cantarolando. Eu ficava lá, ouvindo o barulho do chuveiro ligado e a imaginando tirando o shampoo... eu precisava dela como um gato precisa de um amigo: ele sabia ir embora, mas sempre voltava. Quando ela retornava ao quarto, eu fechava bem os olhos, preferia que ela me acordasse com algum carinho no pescoço. Nessa altura, já não era segredo que eu a observava, o modo como vestia a blusa e arrumava o cabelo diante do espelho, depois o momento em que os olhos azuis ganhavam o lápis escuro e as sobrancelhas claras, tão claras que mal apareciam, ficavam castanhas e – por fim – o perfume que nunca havia sentido antes na minha vida em ninguém. Era hora da despedida. Incrível sentir isso, mas era o pior momento do dia, como se todos os dias algo rompesse brutalmente. Era como uma poesia interrompida pela bateria ensurdecedora do vizinho adolescente. Eu precisava me distrair até ela voltar. Não sei ao certo se eram meus olhos que explodiam paixão ou se ela era real, sei que eu podia dormir entre suas pernas, decorando cada sinal na sua pele branca. Não entedia porque não era para ser se era tanto! No silêncio, nossas conversas eram agradáveis, serenas. Não havia um dia de paz. Eu enfrentava um dragão, fictício ou não, para tê-la ao meu lado. Tinha horas que repetia incessantemente, para convencer-me, que não a queria, que não a amava. Mas queria e amava desgraçadamente. Eu era jovem, ela calejada, eu era doente e ela desesperada; ela não sabia mais amar e eu queria aprender. Meu corpo dependia dela como um viciado depende da heroína. Nossas horas eram de angustia e prazer. Eu fazia as malas, jurava não voltar, mas entrava em abstinência e não segurava a barra. Nosso amor era como a tragada de um cigarro vagabundo, fazia mais mal do que bem, fazia tossir, causava falta de ar, mas eu não podia viver sem. O que era aquilo, eu perguntava ao espelho, com os olhos inchados do arrependimento. Nunca recebi uma resposta. Nossas horas boas eram como segundos, quando eu percebia, os beijos já haviam virado mordidas dolorosas e as palavras de amor agressões. Era tanta mágoa que nem sabia quanto o meu coração era forte. Ela me doía as entranhas, meu peito sangrava e quando eu me desarmava, ela pedia menos drama. Eu queria tudo com ela, ela não queria nada comigo e dizia que o nada era tudo. Ela nadava em mim e eu morria afogada com as ondas que criava para mata-la.

Ela permanece ao meu lado. Agora dorme, exausta. Fizemos todas as juras de amor possíveis essa noite e, noite passada, todas as juras de ódio existentes. Minha montanha russa é americana; pequena e sem graça perto da dela. Meu navio de ultima geração, equipado para enfrentar os pior dos oceanos, é uma canoa furada diante dos seus olhos da cor do mar. Finalmente conheci alguém como eu, eu exclamo. Nosso amor é uma tatuagem feita com agulha quente, queima, arde e não cicatriza, mas durará para sempre.

Eu a amo enlouquecidamente, cada dia mais...