Era um tiro, era eu segurando a arma
era eu atirando para cima
era eu desviando de mim mesma
era eu...
era eu te chamando
era eu repsondendo que virias
era eu
era eu coberta de vaidade
era eu escrevendo poesias
era sempre eu comigo mesma
era eu escrevendo uma história sozinha
era eu imaginando cenas e inventando pretextos
era eu querendo ser amada
era eu...
era tu me vendo no palco
me observando de longe
era tu olhando para baixo, fingindo não ouvir , não ver
era tu...
era tu vendo a arma, vendo minhas mãos
vendo o disparo que dei no meu coração
era tu te omitindo
era tu mentindo
era eu ensenando uma peça sozinha
que te fez chorar...
mas era eu, era só eu te amando
era tu fugindo
era tu me espiando
era a cortina das janelas fechando
era o espetáculo da tua vida se acabando
era tu me enviando ao sanatório
era minha tristeza...
era nós duas perdidas
tu vestindo a camisa de força
era eu nua, resistindo.
era uma carta, era um presente
era teu não ardente
era a minha rejeição andando
por corredores frios...
era eu chorando
era tu me odiando
eram pessoas estranhas nos julgando
era um interrogatório, era eu te protegendo
era tu me entregando.
era uma paixão, era uma ilusão
eram olhos castanhos que se amavam
e nos sabotavam
era um amor...
era eu amando...
era tu petrificada
era eu plantando flores na tua janela
era tu arremessando esses vasos pela sacada
eram duas loucas.
era a minha boca, era tua nuca
Agora sou eu renascendo, sendo detestável
sou eu te detestando, tu sendo agradável
era só um grande amor
virou um falso bom dia,
sempre foi poesia, só poesia...
sempre será um desejo
Um desejo de nós,
ou o desejo de esquecer para sempre.
Quem é esse homem com esses olhos explosivos de esperança que me adentram toda e conversam comigo sem nenhum som enquanto meu corpo dança Dono dessas mãos fortes que me remetem ao desejo de ver os botões da minha blusa arrancados e meus seios seguros, apertados... Da respiração ofegante ao me abraçar E uma boca que expulsa as palavras no tom que gosto de ouvir Deixando-me louca, o querendo aqui por cima, embaixo, ao lado dentro, bem dentro... Disse-me para provocá-lo, não sei como treme minha base fixa A presença dele é um terremoto em mim da maior Escala Richter. Eu - Pequim - em (re)construção, pegando fogo... Ele fala, eu me calo ele cala, minhas pernas amolecem tão dormentes, o chamam ele escuta? Eu o desafio a ouvir E vir.
De repente, o silêncio fez-se presente. Os barulhos dos carros na Av. Ipiranga viraram o som do mar. Eu percebi que havia chegado o momento; o momento de partir. Partir para um outro eu que não levasse meu nome e minhas cicatrizes na mochila. Fechei meus olhos e senti minha respiração, percebendo claramente o ar entrando e saindo dos meus pulmões. Ninguém vive somente de tristezas, eu sou ninguém, todavia quero escrever a poesia retida em alegrias que não me permito viver. Se alguém pudesse me ajudar... mas o som dos motores remetem à necessidade de ir embora desse lugar. Sentem, será que sentem a minha estranheza nos últimos tempos? Pensam, será que pensam em mim? Talvez eu mereça um pouco de atenção, a mesma que pessoas amáveis merecem de mim e eu não consigo oferecer. Minha cabeça doeu tanto que eu sinto a sensação do desmaio, ouço um apito, ao fundo, ruidos de uma guerra que não consigo abandonar. Olho aos lados, devo aprender a matar para não morrer e o alvo certo é meu coração apodrecido e sem esperanças que teima em surrar meu peito. Quem sabe um transplante... eu não sei!
Tenho medo que não cure, temo a amputação de partes minhas para que as outras permaneçam. Não quero amor, não quero paixão, meu sexo causa dor e a minha ausência mental causa perturbação. Nem que eu tentasse, e - acreditem - tentei muito, eu conseguiria. Tão difícil quando a dor psicólogica se aloja e tu sentes tuas mãos adormecidas, teu estômago comprimido, teu...teu que não é mais teu coração ardendo. Literalmente, ardendo dentro de um corpo que tens que carregar para sempre. Ouvi o miado do gato e ouvi também o choro do bebê do apartamento do lado. Tudo é nada, eu nado em águas geladas. Alguém toca violão e me salva da convulsão. Eu vomito, mesmo assim, dormência. Minha cabeça precisa descansar, talvez eu não deva escrever mais. Talvez eu deva desaprender a falar para aprender a sentir de um outra forma. De uma forma que não haja ruinas e que o querer seja saudável como um passeio de bicicleta na zona sul. Analisando, sei que o tombo é maior quando somos grandes, mas não me parece mais coragem insistir em uma batalha que não acredito. Eu desconfio de tudo que vejo e coloco fé nos olhos. Queria mesmo pessoas sem pernas, nem cabeças, sem cabelos, a Andradas rodeada de olhos, infinitas cores, olhos que se olhassem.
Esse é o buraco que cavei. Nele fiz a minha casa, mas não o quero mais, eu não quero absolutamente mais nada, nada que esse lugar me obriga.
de tanto brincar no espelho
será que virei aquilo que queria
ou será que sempre fui o que sou agora?
paro, em silêncio, e observo meus traços
esses olhos escuros, essas mãos, esses anéis de cipó
creio que, hoje, sou o que sempre quis ser
mas quem mesmo, em mim, eu buscava?
temo nunca ter sido poeta
Não, nunca fui, eu sei.
Pois já que esse é um fingidor
será que a dor que deveras sentia
era tão fingida?
talvez eu tenha sido uma atriz
de um talento tão grande
que atuei em minha própria vida
escrevi minha ruína - não sei ter paz -
para ser forte e vencer-me
Tadavia, não sei ter paz!
agora encontro-me desperta
nem se eu desejasse a ilusão
ela tomaria os meus dias
eu, que sou amor por inteira,
nunca amei, nunca fui amada
Deparo-me com a maior contradição para um ser humano, ser pensante: estou incrivelmente lúcida na minha loucura. E eu sou capaz de explicar, explicar toda a dor que me aflige e me tira o sono. Ela está conectado na ausência de alguém e na maldade vomitada por julgamentos de quem não compreende tal sentimento. No meu peito, há um rombo causado pela dúvida. Não questiono a ausência de sentimentos e, talvez em momentos otimistas, tenha dito isso, embora nunca tenha acredito. Houve um tempo que pensar assim, fazia-me tranquila, me remetia a uma espera, eu conseguia seguir. Todavia, essa não era a verdade e toda a vez que nos prendemos numa mentira, mesmo que com a melhor das intenções, um dia ela se esvai. Não creio, hoje em dia, que "num dia de sol, ou numa noite qualquer" - como já escrevi - ela virá, tampoco a quero aqui. Ela não faz parte do meu universo, mas isso não a faria menor; as atitudes tomadas, a fizeram um ser desprezível. Não há nada que surre mais o coração de um poeta do que perceber maldade naquela que arrancou tantos suspiros, tantas poesias... Eu não quero provar a ninguém que estou certa, que não estou doente. Nunca estive doente; eu amei. A atualidade é insensível e desumana, talvez sempre tenha sido, e meu maior descontrole é escrever e-mails, quando me perturbei, ou entregar um presente, quando transbordei de paixão. Mas isso é visto como ofensa, eu agrido quem, na realidade, me agride profundamente, quando censura o meu sentimento. Tudo bem que não o queira, tudo bem que o julguem estranho, mas era algo pacífico, dócil, até nos momentos que tomou forma de despeito. Se enviei reclamações e questionamentos, foi porque era importante entendê-lo, perceber o erro cometido para nunca mais cometê-lo. Nunca quis agridir a pessoa que desejei, entretanto, sou humana e, certamente, também erro, também cometo milhares de equivocações. O problema que me encontrava, era algo que eu deveria ter resolvido comigo mesma e foi o que fiz, ou tentei fazer. Quando vivemos num mundo cinza e compeltamente frio, todo o acolhimento é um calor necessário. Foi isso que pensei, pensei que não faria mal ela saber o quanto alguém a queria bem, forte e livre. Na maioria das vezes, enviei o melhor que me restava, palavras que me entalavam a garganta e mereciam liberdade. Porém, entendi, talvez tarde demais, que meu amor nunca foi visto com bons olhos, por olhos brilhantes. Tudo que eu fiz, virou uma imensa agressão e, para esquivar-se, ela não enfrentou, abaixando-se para o soco retornar ao meu peito. Tomei tanta paulada que virei triste, mas tudo bem, partiu de mim, voltou pra mim, ela quis assim e eu aceito a condição. Era como um beija-flor que nectarizava as flores e, de repente, virava um morcêgo solitário, que bebia sangue. Mas até os morcêgos são inofensivos e merecem respeito, e até quem desrespeitou, se não o fez com intenção, merece respeito. Há que ser escrito um pedido de desculpas, mas pelo o quê mesmo? Vou formular sem saber, sem entender bem, mas vou, pois sempre cultivei na minha essência a capacidade de reconhecer minhas falhas. Peço perdão por ter externalizado o meu sentimento, por ter entregado, sem que houvesse autorização, o que eu sentia, peço perdão por ter sido invasiva, escrevendo desejos errantes, perdão por tudo, absolutamente tudo que causou o meu querer e, também, por tudo que ele não causou, perdão por ser assim, impulsiva e intensa, perdão por ter sonhado, por ter admirado, por ter sentido tesão por quem não poderia, perdão pelas inúmeras mensagens sem respostas e pelas as respostas que nunca entendi, perdão por ser eu!
Meu último contato, deu-se diante do desespero que senti ao constatar que fiz tudo tão sincera, tão ingenuamente e virei um monstro, alguém que precisa de ajuda. Mais um perdão, é que acho isso incrivelmente triste, duma tristeza absurda. Nunca a faria mal, nunca a tocaria, nem nela e nem em quem fosse, sem que houvesse consentimento, Nunca a agrediria, nunca a prejudicaria, mas foi somente o que fiz. É que o mundo atual é deveras tecnológico e, de fato, mensagens, e-mails, músicas, poemas, são um tocar obrigatório, quando os olhos não conseguem controlar-se e são curiosos. Percebo, claramente, que preferia ter sido ignorada, mas não agora, não no último contato, pois esse não fala em amor, fala somente na dor do desentendimento e da dúvida. Não sei o que acontece e, dizem, nunca saberei. Resta escrever a verdade que me pertence. E é essa que está aí, escrita não pelas minhas mãos, mas pelo meu coração, como todas as coisas que já vomitei aqui e em todos os lugares. É tão difícil não deixar a esperança morrer, eu a cuido, ela vive doente, sua imunidade é baixa e todo o ato desumano que a alcança, a faz cair na cama. Eu a levanto com meus braços, a injeto fé com poesia, fotos, músicas e ela volta a caminhar. Minha maior luta atual é não deixar de acreditar, é seguir crendo que, por mais que hajam pessoas de pedras, são pelas de manteiga, pelas que se derretem e mudam com a lua cheia, que devo viver.
eu estendo minhas mãos para ancançá-la
parece uma nuvem, uma miragem
parece um delírio criado da minha vontade
quantas paixões podem brotar de um coração morto
quantas cores podem espelhar olhos negros?
Eu vejo um arco-íris quando a vejo!
percebe-se a carência do sol
tão majestoso, vive sozinho
e porque eu não viveria?
ocorre que um céu nublado é proteção
da tristeza nasce a força
são pés cansados que pisam em cacos de vidros
- Pára! - grito- é preciso não buscar nada
é de repente que um abajur acende
para, depois, os dedos voltarem a enchergar
enquanto que os olhos voltam a sentir.
cabelos negros, ruivos, loiros
uma única cama esbanja tanto
Soa insignificância
entretanto, aquela dor que habitava
vira poesia sem nexo aos que a lêem
explica-me quem és
assim posso entender melhor o silêncio posterior
o amor, quando grandioso, é ausente
há corpos foragidos
ninguém nos salavará
vizinhos desconhecidos que choram ao mesmo instante
todas as lágrimas conectadas pela desejo comum
Milhares de sonhadores que sonham com a mesma imagem
que sentido, senhor?
descubro, diante da tranquilidade,
que a paixão descarta relógios e
se o pensamento nos cansa,
é o tédio gemendo desentendimento sobre a realidade
sou uma flor quase morta
Tranquila e conformada
esperando um regador
que só pode aparecer
se eu não o necessitar, se eu não o quiser.
um pássaro rasga meu peito,
quer partir
migrar para a terra da paz
que sempre ignorei
tudo que eu preciso
absolutamente tudo que eu quero
depende da solidão
somente só, o homem encontra a liberdade-felicidade.
perambulei as ruas na chuva
Renato dizia-me a verdade
minhas semanas são extensas
minhas horas duram uma eternidade
te esperar é o tema de casa mais dificil que já recebi
são dois anos e, penso, cem páginas concluem pouco
quase nada.
Pra ser sincera, estudo o assunto o tempo todo,
estou na graduação
mas...
Espero que a minha dissertação de mestrado seja um manual da tua felicidade
já sei que descontrolo teus olhos
os faço rebeldes, eles são o que és e escondes
tenho que ocupar teus sonhos
para que vejas todos os sorriso que posso te arrancar
pintar a parede do teu quarto de verde
para que, no teu despertar, te depares comigo (esperança)
costurar teu vestido azul
e dizer-te o quanto ficas bela dentro dele, ou quando danças
ainda no teu sonho,
amor, grande amor,
talvez eu apareça num cavalo
todavia ele será preto
mesmo assim, eu posso ser encantada
mesmo sem nenhuma barba no meu rosto...
é por ti que faço a revolução!
Todos, por todos esses longos, tão longos dias
amanhã é domingo
teus segundos te devorarão (ou não)
eu mudarei os móveis de lugar
vou pedalar a cidade cuidando os carros
mas não temo um atropelamento:
tenho medo mesmo é de passar mais um longo (muito longo)
dia sem, sequer, ver teus olhos
Thais rima com nariz
e - que irônico - com feliz
Mas só Thais fecha mesmo com Thais
até ao contrário, de qualquer jeito
nenhum outro nome tem o mesmo número de letras,
o mesmo som e um acento agudo no I
Entretanto, são só desvaneios do alcool batendo...
O morador de rua não tem casa e dorme na chuva
a chuva me cura, me leva pra longe
ele me inveja, eu só quero esquecer
ou apressar os ponteiros do relógio
pra chegar rápido o dia D
dia D ser feliz, dia D sorrir...
Até a letra D pareço um sorriso
quando penso nos meus dedos contornando a tua boca
e a minha boca beijando a tua nuca
É, eu sou louca!
nem é mais uma fossa
nem é mais uma agonia
tá virando uma calmaria que assusta
Estou parecendo o Fernando que caminha pelo Bonfim
saindo da rua Bento Figueredo
certamente, ele também está esperando o fim
teu nome, Augusta, é angústia
e tuas pupilas são cifrões
tuas mãos, Maria, dançam balé
e espalham melancolia
e teus pés, René, pisam sempre em falso
Espio-te pela janela
- Manuela, não faça isto!
meus olhos te gritam
teus ouvidos, Berenice, só escutam chatices
Escrevo-te um poema-canção
o João dar-te-á um avião,
todavia, Sofia, teu céu será cinza
o Zeca, ECA, usa terno e gravata
mas tudo bem, Rebeca, ele usa cueca.
Lá vem o Manuel, de barba, numa mercedes.
Mas, Matilde, eu, Neruda, te falo de amor
Ai de mim, Dolores, castigar-te com as minhas dores
Já o Vicente, das costas quentes, te oferecerá um anel
encolho-me, então, e derramo minha lágrimas no chapéu
que recolhe as esmolas do teu afeto.
sento-me no chão da miséria, Valéria
e rasgo o bilhete da megasena.
Peço a morte de Augusta
entretanto, ela se arrasta e me pede perdão
Ela não sabe bem por que está aqui
diz-me que nasceu assim, triste e atormentada, está conformada
dou-lhe outra poesia, mas Luisa não fala minha língua.
É hora de partir, pois não quero arremessar pedras na Geni.
começo a andar pela avenida, pensando em Carolina
ensaio o que eu falaria, se Camila me ouvisse
Se eu fosse Luis, a diria:
mulher, sei bem que quero e posso te fazer feliz.
de todos os amores que vivi, sobrou o desamor
e, instalada no meu estômago, a náusea sartreana.
Simone o derrotou (talvez)!
tantos nomes me puseram de joelhos, eu sei,
todavia, Sartre, eu, tu, todos
só somos vencidos por nós mesmos
(pausa da ironia: tem meu nome quem atirou-me no peito
e findou, aniquilou, pisoteou todos meus planos, enganos e a minha alegria)
temo que eu nunca encontre a verdade
o seu esconderijo nas almas que conheci
haviam porões, sotãos, quartos secretos
que meus olhos nunca avistaram
entretanto, nunca permiti que a desistência me tomasse conta.
há dentro do meu ventre
a força de um leão
E, diante da tentativa de morte da esperança,
eu pari a resistência
toda força verdadeira, nasce da dor e tem sangue
meus olhos, que são olhos bazuca
explodem o medo
e enfrentam, cotidianamente, o medo do medo
- O que houve? alguém me interroga!
aconteceu a implosão, tombaram-me enquanto escrevia um poema
e meu corpo expeliu, naquele dia, a fraqueza e a derrota
ao pés de quem me esfaqueou com conchavos de amor
eu sorrio, há loucura, não nego
mas não rezo para alguém
meu deus sou eu
e ele é sozinho e feio como uma coruja
Não te aproxima, não é preciso avisar
verás, ao meu ver, que não te quero mais aqui
meus pelos arrepiam-se diante da nojeira
e sou capaz de saltar como um guepardo
fazendo-te sangrar até o fim com uma única mordida
(metralhadora de palavras, mil balas cuspidas com a força da minha boca)
mas faço isso pela frente e te olhando fixamente
Pois sou homem gato, mulher gato.
e me ensinaste com perfeição, professora da desilusão,
que no meu telhado só ha espaço pra mim
e o reflexo da lua.
é provável que um dia minhas mãos cansem de escrever tristezas. ontem perambulei as ruas, sozinha, cena decadente. eu ando bem cansada dessa amargura instalada em mim. as coisas bonitas que meus olhos avistam, são pequenos momentos que vão embora. minha cama está vazia há bastante tempo e não por falta de opção, é a minha escolha. não me entrego mais pra ninguém, não quero e não posso. não posso porque seria um engano e temo o eco, respeito o eco. não quero emanar ao universo a minha dor, pois desejo que ninguém a sinta, além de mim. e quando ela partir, que ela parta pra sempre e não retorne nunca mais ao meu coração. existe uma doença fixada no meu peito, uns chamam de amor, outros dizem não entender. é um buraco, oco e vazio. e, mesmo assim, ainda sinto. já secou, já instacou a hemorragia. não morri, não suicidei, muito menos matei. cuidei, zelei meu coração para que ele não apodrecesse, todavia não dependeu só de mim. errei muito nos últimos anos, maltratei almas, falei em amor sem sentí-lo verdadeiramente. era fuga, por certo. eu queria, desesperadamente, virar uma página que não se vira. tenho saudade da minha vida antes disso tudo. como era tranquilo! minha referência de amor, era sadia. eu tinha um corpo real em cima do meu que agora esquenta outro corpo. estou sozinha, triste, muito triste. entretanto, prefiro assim. só volto a dividir-me se, um dia ou uma noite, eu possa abraçar forte alguém, sentido vontade real disso. caso contrário, aceito a solidão. se a humanidade não me entende, tampouco a quero por perto. meus gatos me esquentam inverno adentro. são sinceros e, se voltam, é porque querem voltar e, se um dia não puderem voltar, basta - pra mim - saber que eles adorariam estar ao meu lado. bastava saber que ela queria, embora não pudesse, mas ela nunca quis, nunca pode. dei um sentimento do tamanho dos andes, tão grande que explodiu, não pude evitar. era algo que nunca tinha vivido. também não soube agir. se eu tivesse encostado, em silêncio, a teria perto e, certamente, não estaria tão triste. mas a mandei pra longe, escrevi o pra sempre numa história que nunca começou. equivocada, ansiosa, destroi, sozinha, minhas esperanças que já eram pequenas. se eu pudesse voltar ao passado, não a teria olhado, mas se isso fosse inevitável, faria tudo diferente para, pelo menos, seguí-la olhando por muito e muito tempo. parecia verdadeiro, vejo fotos de casais, é dia dos namorados (que ironia) e não vejo amor em parte alguma. eu o via nos meus atos, mesmo errados, na noite em que fiz de tudo para vê-la sorrir. guardarei meu único acerto com carinho. vou lembrar pra sempre da forma como ela me olhou, fechando os olhos... pra mim, é isso. pelo menos, hoje, nenhum sentimento ruim está comigo e sopro com o vento coisas boas à ela. vou seguir por aqui, talvez um dia passe, mas se não acontecer, ninguém mais saberá. ela só saberá se quiser saber, se vier até aqui e ler. e, se ela vier, deixo registrado que não tenho vergonha das minhas falhas e nem da minha caligrafia feia. tudo que eu senti, eu falei, eu escrevi...foi pra ela que dediquei o maior sentimento, que não desejo nomear, que já vivi. estou em paz, pois a tristeza machuca, mas minha consciência está tranquila. aconteceu uma revolução em mim e, acredito, teria acontecido de qualquer forma: mesmo que eu sufocasse, nada permanece escondido por muito tempo. criei a bomba atômica, não há mais passarinhos e nem árvore para serem derrubadas, o rio está impróprio para banho, ela não veio, nunca virá e, temo, ninguém mais virá. quem desejaria viver em um deserto?
bebi meu violão
bati o cigarro no cinzeiro
parei num puteiro
afrontei a solidão
tranquei na masmorra teus olhos sujos
na tentativa infeliz de estancar a hemorragia
mas meu coração apodrecia
cada beijo que minha boca lançava
despejava na minha face uma lágrima
todas essas companhias...
eu suspiro dor e agonia
meus sonhos se desmacham no chão da cozinha
dessa noite fria...
não choro mais por ti
a roda viva calou minhas reclamações
pintou um outdoor na frente da minha janela
com letras de sangue e fotografia triste
foi embora a juventude
a doçura, a fé
piso descalço no cimento
congelo, pouco a pouco, por dentro
mas ainda sinto
(e como sinto)
todas as dores do mundo
estão presas na minha traqueia
Exclamo: é a morte
vem com a chuva a despedida
ela parte prum universo limpo
morre velha
eu morro jovem, morro viva
pero, cariño, yo soy una golondrina
libre, libre
meu amor, que era gigante,
fortaleceu minha coragem
que hoje é do tamanho dos Andes.
nada temo,
as tais pedradas do caminho
acertam em cheio meu peito
mas, como as árvores, permaneço em pé.
abismos?
eu sou a queda livre
ventania?
eu sou a tempestade
o passado é a minha rua, mão única
te querer foi como engatar a ré
agora ando pra frente, de cabeça erguida
bebi meu violão,
brindando o fim da expectativa
ninguém mais eu quero
ninguém mais eu espero no portão
soy una golondrina
sola y libre
Nadie más va a quemarme, matarme
porque ya estoy en el cielo lejano
las crueldades del mundo ya no me alcanzan
aunque me hacen sentir y llorar
mi corazón se convirtió en el viento...
ahora mi poesía es para la lucha
mis versos escriben la fuerza que tengo en mis manos
y mis ojos son dos nubes de libertad
gritando en voz alta que estoy viva
y todavía puedo soñar
un sueño sin pasión y llena de amor
el amor de la humanidad
yo estoy libre de ti.
Olho um retrato, um que sobrou por aqui.
Não sinto nada
Pergunto, olhando teus olhos, porque fizeste isso comigo?
porque pregaste meu coração assim
porque tanta maldade...
porque tanta loucura...
porque tanta covardia...
porque tanto moralismo...
porque tanto preconceito...
porque tanta desigualdade...
porque tanto egoísmo...
porque tanto medo...
morreste aqui dentro porque mataste
e quem mata, também morre, nena.
Caminho pela calçada, passo em frente ao portão que tantas vezes entrei. Ninguém mora mais ali. Sigo, gotas finas caem, as estrelas sumiram do céu. Alguém se aproxima, pede companhia e não o que tenho. Alguém quer conversar, ele é tratado como bicho, mas não morde. Quer, de mim, humanidade. Seguindo, mais a frente, vejo jovens, vejo a alienação. Não sabem ou ignoram as dores do mundo, bem vestidos, bebem e dirigem seus carros. Coitados, acham que são felizes, com suas roupas caras, seus sapatos costurados por mãos infantis. Chego em casa, abro a porta, passam 5 viaturas policiais, todos sérios, cumprindo um dever doentio de proteger o patrimônio para terem o que comer. Sento-me e escrevo, o telefone toca. Pessoas me ligam, a justiça não existe e come os sonhos dos que ainda são capazes de sonhar. Vou para lá, 70 olhos brilhantes. recupero-me, injetam em minhas veias uma dose alta de esperança. Sento na roda, todos iguais, alienígenas como eu, todos com o sangue azul. Cantam, ainda, cantam a mudança. Olho para o céu, entre as árvores - que não existem mais- a lua. Registro a cena, memória fotográfica, se meus olhos fossem uma câmera, seria uma das fotografias mais lindas que alguém já viu. Dois homens de verdade tocam violão e cantam o mundo tão desigual...Eu poderia conter as lágrimas, mas ainda estou viva. Elas caem sem pedir minha licença, todavia não molham de tristeza o ambiente. É bom estar aqui, eu penso. Entregam-me um papel, um papel judicial que manda todos saírem daquele lugar, um mandado que ordena à todos que não sonhem. Vejo o prazo, ainda temos tempo, eu digo e ouço que vamos resistir. O vinho barato passa de mão em mão, pobres, ricos, indigentes, todos tem bocas iguais e bebem e compatilham tudo. Sinto uma mão alisando meu ombro, olho ao lado e vejo uma mulher, uma mulher de verdade. Vejo, também, um sorriso mais doce que cachaça com mel, que caipira açucarada em excesso. Ela me agradece. Pelo quê, eu me questiono. Ela diz que precisa descançar, não dorme bem há dias, tem os olhos cansados, mas repletos de força. Ela é linda, lindíssima e quando apertamos as mãos, eu me senti viva. A noite segue, não se arrasta, segue calma, o vento balança as barracas, as árvores que não existem mais. Agora o morador de rua dos olhos cor de mel, quase verdes, senta ao meu lado. Diz-me que vai me proteger. Eu quis dizê-lo que não era preciso, mas mesmo com o corpo massacrado de rejeição, de violência, ele sentia necessidade de abraçar e de dar proteção. Ele, escória da sociedade, da sociedade normal, ainda sabe o que é amor. Explicou-me porque os olhos dos negros são tão escuros e o dele não era. Falou-me que era preciso olhar diretamente ao sol para ter olhos grandes e que as geleiras e o frio pintavam de azul os olhos dos gringos. Deite-me na raiz de uma das árvores, que não existem mais, ouvi histórias, não falei muito como sempre faço. Um homem com cara de mau perguntou se poderia ficar ali comigo, eu deixei. Sorri com a alma quando percebi que se tratava de valentia e não maldade aquela cara amarrada e séria. Ele perguntou se eu gostava de chocolate, respondi que não muito, então ele levantou-se e retornou com um para mim, disse que adoçava o coração. O vento gritou que eu deveria ir embora, levantei-me e não existia como sair daquele lugar, não passavam carros na avenida, muito menos algum táxi. Fiquei parada e disse que tinha sorte, olhei para a esquerda e vi um ônibus. Pararam para mim com boa vontade, levaram-me até a rua da minha casa. Chego em casa e coloco-me a escrever. Em segundos, a notícia, todos do acampamento estavam presos e as árvores que tinham banhado meu corpo, minhas mãos de paz não existiam mais. Meus novos amigos que vieram do mesmo mundo que eu, estavam algemados e machucados em alguma delegacia do planeta terra que é habitado por seres humanos desumanizados.
é complicado estranhar o bem estar, a tranquilidade. ela voltou pra mim, finalmente. as tempestades de agora são formadas no céu e atingem a todos. já não sinto medo da solidão, do não de ninguém. estou livre, incrivelmente livre. quem encosta, sente. meus passos voltaram pros meus pés, minhas mãos até dançam por aí, sem desejar ninguém. eu posso até trocar olhares, mas nunca mais dou meus olhos pra alguém. são meus. são eles que me mostram hoje a ironia da vida. perdi tanto e, na verdade, não perdi nada. quem foi embora na hora do incêndio, não merece ficar para ver a primavera comigo. a roda viva do coração é foda: gira que nem roleta e eu não tive sorte. foi preciso tempo pra levantar da mesa e não apostar mais. estou sentada na beira do rio que sempre esteve ali e eu, presa, nunca vi. ele é lindo, o sol é lindo. eu estou aonde quero estar.
esse sereno da madrugada
minha voz rouca
meus traços deformados da febre
minha boca costurada
essa imagem no espelho que desconheço
um eco alto ensurdecendo
uma alma oca
vazio, casa sem móveis
delírio do alcool
medo da solidão
ele me diria que eu cavei meu próprio buraco
essa dor sórdida e fiel que não abandona
minha lingua dormente, sentindo mil gostos
sem sentir absolutamente nenhum
meus dedos tarados
esse desejo em rasgar tuas roupas
te ver de olhos bem fechados
esse sussurro que nunca veio
essa espera
seja o que for, essa esperança maldita
de que o dia amanheça diferente
esse sonho desconecto
jogado num canto, esquecido por todos
eu abro meus olhos
de imediato, me remetem teu rosto
essa poesia que não toca
que destrata, que agride
essa perturbação medonha
uma conta zerada, um ano que não passou
minha planta morta
essa desatenção
o gato no telhado mia a vida
(eu fecho a porta)
a morte fala meu idioma
sangro
uma hemorragia que não finda
pelo chão, escorrem pedaços
essa parede invertida, de cabeça pra baixo
duas mãos,
essas unhas roidas
essa minha ruina
ouço vozes, mandam-me ter calma
- mas como - eu grito - eu tenho alma!?
esse suspiro que não puxa ar
um limite invisível
até onde se vai?
eu arremesso pro céu com toda a minha força
tranco os pés no inferno pra não ir
esse cotrato oneroso
essa lei intocável, clausula pétrea
rasgo, invoco o poder constituinte
a onda gigante arrebenta a pedra, mas não fura
pra onde vão os pássaros esse ano?
sempre pro mesmo lugar
mês que vem eu pago as contas
renasco, firme e forte
agora, enfio o cano na boca,
e como uma bala
não estava, não estou e não posso ir
onde estão as cores desse filme cinza?
critico e convenço
não mais!
nem eu me elejo
voto em branco
assino teu despejo, reconheço firma
essa cama tão desarrumada
é o reflexo do meu coração
a mesma mão que engatilha a arma é a que retira as balas.
no labirinto das emoções, a razão é invisível.
o sinônimo de humanidade é confusão
não, não é racionalidade.
um sentimento forte somado a outro pode virar zero.
depende só de quem faz a equação.
somos carne rumo ao apodrecimento
todos com medo da morte
então alguns aceitam trocar o coração verdadeiro
por um de plástico colorido
abriram meu peito, tiraram de mim meu direito
das flores da primavera, só sobraram as folhas do outono
o fogo não mais esquenta
as mãos são geladas, se escondem do toque
vão para o bolso.
os olhos, diante de olhos que enxergam
olham para baixo, olham para o lado
eles não miram o presente,
são pedras esquecidas no passado.
as feridas vestem marcas, roupas caras
do tédio, nasce uma aquisição
que retira um sorriso curto dos rostos tristes
eu vejo da minha janela
um paredão cinza,
o sol desistiu do homem, vai se distanciando
sua intenção é derreter as geleiras
que habitam o coração humano.
ela nasceu mulher para que não morresse de coragem exagerada.
agora ela entende o porquê! é pra morte se arrastar e seus olhos não fecharem de imediato. se fosse homem, com braços fortes e barba mal feita, já a tinham matado, ela já teria matado, mas é mulher dos cabelos pretos, mãos delicadas e da pele macia e lisa. o rodopio das ideias inacabadas a torturam diariamente. é possível que ela envelheça e até a convençam de que é louca. o que a espera é a solidão. por conforto, ela repetirá pensamentos em seu cérebro que a tranquilizam. dirá todos os dias diante do espelho que pessoas inteligentes são sozinhas. ela não quer morrer, todavia a vida parece um fardo. mas não há do que ela reclamar. todos dirão isso o tempo todo até ela ceder por completo, entupindo-se de pílulas que remediam, mas não curam. uns farão perguntas, a estudarão e ela perceberá, sempre. nada mais óbvio do que afirmar loucura para negar a realidade. uma louca chora no escuro, não incomoda. os problemas de verdade - dirão - são bem mais sérios e são. a louca de estômago cheio e vida fácil. ela olha ao redor e vê miséria gritante onde há fatura. porque alguém ouvirá sobre alma, se o corpo está em pé? se o mundo pegasse seus olhos por minutos seria possível entender. seria? nada melhor e mais simples, menina, que aceitar a condição humana, tão limitada e desumana. quem chora pelos que tem fome agoniza muito mais que os que tem fome porque nada pode ser feito. dar de ombros, aceitar o vazio existencial, comprar uma bicicleta, beber todas as noites ameniza a impotência porque a anula. quem é vazio não sofre as dores do mundo e é escutado. adapte-se, durma cedo, coloque no ralo o seu tempo e quando a fúria do teu coração explodir teu peito para ser escutado, tome um antidepressivo e babe a fronha do travesseiro com um sono pesado e sem sonhos.
volta agora, abra os olhos, já!!
rasgue as convenções, anule os contratos. se todos disserem "vá para a esquerda", não vá, tão pouco vire a direita, siga em frente. talvez tuas percepções, tua intuição esteja equivocada, ainda assim não tome como verdade absoluta a impaciência e incapacidade humana em entender o amor.
o amor e a obsessão
caminham lado a lado
um é iluminado pelo sol
outro vaga na escuridão
tão difícil, parecem irmãos gêmeos idênticos.
mas olhando com atenção,
dá pra perceber que um é ermo e feio.
todas as juras, pareciam reais
meras palavras bonitas, então?
papéis sujos, contaminados que vão pro porão
não toque em mim
me examine de longe, sou um rato
tua paixão pelo crime
tornou-me quase uma criminosa
de repente, sou um sapo
eu, que falo tão bem de mim, não sei quem sou?
sou a rejeição em fúria
um soco no estômago do meu agressor
dorme agora,
minha escopeta
mirará outro alvo
desculpe as balas de tinta
meus olhos não te reconhecerão em pouco tempo
teus olhos não me verão no inverno
quando a estação mudar, o calor voltar
eu que não sei o que é o amor
vou controlar minha loucura
sem a tua solidariedade ou ternura
730 dias apagados a borracha
com o movimento das minhas mãos
e a força da minha vontade
lá na frente, vou virar para ver o passado
não haverá paixão
e nem saudade.