domingo, 24 de novembro de 2013

Soy una paloma...




Cucurrucucú
Paloma
Cucurrucucú
No llores
Las piedras jamás
Paloma
Que van a saber
De amores

domingo, 10 de novembro de 2013

o que era (nós)



Era um tiro, era eu segurando a arma
era eu atirando para cima
era eu desviando de mim mesma
era eu...

era eu te chamando
era eu repsondendo que virias
era eu

era eu coberta de vaidade
era eu escrevendo poesias
era sempre eu comigo mesma

era eu escrevendo uma história sozinha
era eu imaginando cenas e inventando pretextos

era eu querendo ser amada
era eu...

era tu me vendo no palco
me observando de longe
era tu olhando para baixo, fingindo não ouvir , não ver
era tu...

era tu vendo a arma, vendo minhas mãos
vendo o disparo que dei no meu coração

era tu te omitindo
era tu mentindo

era eu ensenando uma peça sozinha
que te fez chorar...

mas era eu, era só eu te amando
era tu fugindo
era tu me espiando
era a cortina das janelas fechando
era o espetáculo da tua vida se acabando

era tu me enviando ao sanatório

era minha tristeza...

era nós duas perdidas
tu vestindo a camisa de força
era eu nua, resistindo.

era uma carta, era um presente
era teu não ardente
era a minha rejeição andando
por corredores frios...

era eu chorando
era tu me odiando

eram pessoas estranhas nos julgando

era um interrogatório, era eu te protegendo
era tu me entregando.

era uma paixão, era uma ilusão
eram olhos castanhos que se amavam
e nos sabotavam

era um amor...

era eu amando...
era tu petrificada

era eu plantando flores na tua janela
era tu arremessando esses vasos pela sacada

eram duas loucas.

era a minha boca, era tua nuca

Agora sou eu renascendo, sendo detestável
sou eu te detestando, tu sendo agradável
era só um grande amor
virou um falso bom dia,
sempre foi poesia, só poesia...

sempre será um desejo
Um desejo de nós,
ou o desejo de esquecer para sempre.














quarta-feira, 23 de outubro de 2013

in

Doeu-me como um soco na boca do meu estômago farto
E coberto dessa pele branca
De veias por onde corre um sangue colonizador
Nada me envergonha mais que a miséria
Cada alienado insensível
É um tiro em meu peito
Que abriga um coração frágil demais
Para ver tanta dor

                                  Me dizem asneiras, eu reclamo mesmo sendo uma privilegiada
A fome mata a mingua, são crianças, idosos.
Balas de um exército de mãos sujas
Que atiram em sonhos
Tantos olhos... puxados, pretos, cor de mel
Como se um monstro viesse e pisasse na inocência
Meu banho quente, minha cama
Tudo me agride profundamente
Quantos niños mueren por mi?
Quantos gritos de desespero
Saltam aqueles que sustentam minha fartura?

Meu sapato não é costurado pela bondade de uma criança
E o teu?
Sento-me na defensoria e defendo o óbvio
Agradecem-me, como se eu fizesse muito.
Cada ruga que vejo em minha frente
É o contorno da exploração
Eu exclamo, espantada, ainda sim são bons!
Errado é o homem que fala em ganância
Como se essa doença fosse intrínseca a todos.

Ouço a gaita...

Tenho em mim todas as dores do mundo

Como podem viver como se tudo estivesse bem???
Os índios, os negros foram escravizados.
Pé na porta do laboratório de experimentações animais.
Não se trata nem bicho assim, cara pálida!
Olhos azuis, verdes – depois de estuprar, matar, queimar – libertaram.

Tenho em mim todas as dores do mundo

Que tristeza as coisas todas valendo mais que um aperto de mão
A carteira valendo mais que o abraço...
Pobre batendo em pobre...
Que cegueira, caramba!
Uma minoria destruindo tudo
Uma porção média achando que vive bem
E a massa sustentando seu próprio genocídio.
Desculpem-me, não sou como eles!
Não sei mais o que fazer para não ser como eles.
Tenho em mim todas as dores do mundo...

E a ânsia da náusea por não poder fazer nada

sábado, 19 de outubro de 2013

a outra

Hoje a lua impera
Ao meu colo, a esposa – algema, minha amiga
Clama por ele
Todo o seu corpo deseja uma barba
Que roça o pescoço, agora, em outro rosto

É que são unidos e estão longe
Quem está perto é a salsa, uma outra, a cachaça

Eu falo que é uma noite, uma tarde, o pico do sol do verão

É que eu sou, eu sou a...

Eu sou uma hora
Sou um motel, o banco da frente do carro
Passo rápido, sou a (des)importância
Os meus braços prendem abraços segundos
E, num pulo, ele é um gato, eu o telhado.
Ele volta, retorna para casa

É nos braços de ferro que ele descansa
Eu sou a dança
O espaço, intervalo do trabalho

Falei que ela é o ventre
Que abrigou os seus olhos, seu amor

Eu sou o vento, a marca do dente, a dor

Sou nada, o nada que nasce
Da ausência dela

Ela entende, eu entendo,
ele sabe, eu sei e ela? Ela não
Eles passam, passarão – juntinhos -

E eu passo, passarinha sozinha.


sábado, 28 de setembro de 2013

Primavera

Quem é esse homem
com esses olhos explosivos de esperança
que me adentram toda
e conversam comigo sem nenhum som
enquanto meu corpo dança

Dono dessas mãos fortes
que me remetem ao desejo
de ver os botões da minha blusa arrancados
e meus seios seguros, apertados...

Da respiração ofegante
ao me abraçar

E uma boca que expulsa as palavras 
no tom que gosto de ouvir

Deixando-me louca, o querendo aqui

por cima, embaixo, ao lado
dentro, bem dentro...

Disse-me para provocá-lo, não sei como
treme minha base fixa

A presença dele é um terremoto em mim
da maior Escala Richter.
Eu - Pequim - em (re)construção, pegando fogo...

Ele fala, eu me calo
ele cala, minhas pernas amolecem
tão dormentes, o chamam

ele escuta?

Eu o desafio a ouvir

E vir. 









quarta-feira, 25 de setembro de 2013

The Rip Tide

De repente, o silêncio fez-se presente. Os barulhos dos carros na Av. Ipiranga viraram o som do mar. Eu percebi que havia chegado o momento; o momento de partir. Partir para um outro eu que não levasse meu nome e minhas cicatrizes na mochila. Fechei meus olhos e senti minha respiração, percebendo claramente o ar entrando e saindo dos meus pulmões. Ninguém vive somente de tristezas, eu sou ninguém, todavia quero escrever a poesia retida em alegrias que não me permito viver. Se alguém pudesse me ajudar... mas o som dos motores remetem à necessidade de ir embora desse lugar. Sentem, será que sentem a minha estranheza nos últimos tempos? Pensam, será que pensam em mim? Talvez eu mereça um pouco de atenção, a mesma que pessoas amáveis merecem de mim e eu não consigo oferecer. Minha cabeça doeu tanto que eu sinto a sensação do desmaio, ouço um apito, ao fundo, ruidos de uma guerra que não consigo abandonar. Olho aos lados, devo aprender a matar para não morrer e o alvo certo é meu coração apodrecido e sem esperanças que teima em surrar meu peito. Quem sabe um transplante... eu não sei!
Tenho medo que não cure, temo a amputação de partes minhas para que as outras permaneçam. Não quero amor, não quero paixão, meu sexo causa dor e a minha ausência mental causa perturbação. Nem que eu tentasse, e - acreditem - tentei muito, eu conseguiria. Tão difícil quando a dor psicólogica se aloja e tu sentes tuas mãos adormecidas, teu estômago comprimido, teu...teu que não é mais teu coração ardendo. Literalmente, ardendo dentro de um corpo que tens que carregar para sempre. Ouvi o miado do gato e ouvi também o choro do bebê do apartamento do lado. Tudo é nada, eu nado em águas geladas. Alguém toca violão e me salva da convulsão. Eu vomito, mesmo assim, dormência. Minha cabeça precisa descansar, talvez eu não deva escrever mais. Talvez eu deva desaprender a falar para aprender a sentir de um outra forma. De uma forma que não haja ruinas e que o querer seja saudável como um passeio de bicicleta na zona sul. Analisando, sei que o tombo é maior quando somos grandes, mas não me parece mais coragem insistir em uma batalha que não acredito. Eu desconfio de tudo que vejo e coloco fé nos olhos. Queria mesmo pessoas sem pernas, nem cabeças, sem cabelos, a Andradas rodeada de olhos, infinitas cores, olhos que se olhassem.

Esse é o buraco que cavei. Nele fiz a minha casa, mas não o quero mais, eu não quero absolutamente mais nada, nada que esse lugar me obriga.

domingo, 22 de setembro de 2013

teatro

eu sou...
quem sou?

se quiser ser ninguém, deixarei de ser alguém?

e se o ninguém que sou
for alguém numa fantasia?

de tanto brincar no espelho
será que virei aquilo que queria
ou será que sempre fui o que sou agora?

paro, em silêncio, e observo meus traços
esses olhos escuros, essas mãos, esses anéis de cipó

creio que, hoje, sou o que sempre quis ser

mas quem mesmo, em mim, eu buscava?

temo nunca ter sido poeta
Não, nunca fui, eu sei.

Pois já que esse é um fingidor
será que a dor que deveras sentia
era tão fingida?

talvez eu tenha sido uma atriz
de um talento tão grande
que atuei em minha própria vida
escrevi minha ruína - não sei ter paz -
para ser forte e vencer-me

Tadavia, não sei ter paz!

agora encontro-me desperta

nem se eu desejasse a ilusão
ela tomaria os meus dias

eu, que sou amor por inteira,
nunca amei, nunca fui amada








segunda-feira, 16 de setembro de 2013

mergulho

Deparo-me com a maior contradição para um ser humano, ser pensante: estou incrivelmente lúcida na minha loucura. E eu sou capaz de explicar, explicar toda a dor que me aflige e me tira o sono. Ela está conectado na ausência de alguém e na maldade vomitada por julgamentos de quem não compreende tal sentimento. No meu peito, há um rombo causado pela dúvida. Não questiono a ausência de sentimentos e, talvez em momentos otimistas, tenha dito isso, embora nunca tenha acredito. Houve um tempo que pensar assim, fazia-me tranquila, me remetia a uma espera, eu conseguia seguir. Todavia, essa não era a verdade e toda a vez que nos prendemos numa mentira, mesmo que com a melhor das intenções, um dia ela se esvai. Não creio, hoje em dia, que "num dia de sol, ou numa noite qualquer" - como já escrevi - ela virá, tampoco a quero aqui. Ela não faz parte do meu universo, mas isso não a faria menor; as atitudes tomadas, a fizeram um ser desprezível. Não há nada que surre mais o coração de um poeta do que perceber maldade naquela que arrancou tantos suspiros, tantas poesias... Eu não quero provar a ninguém que estou certa, que não estou doente. Nunca estive doente; eu amei. A atualidade é insensível e desumana, talvez sempre tenha sido, e meu maior descontrole é escrever e-mails, quando me perturbei, ou entregar um presente, quando transbordei de paixão. Mas isso é visto como ofensa, eu agrido quem, na realidade, me agride profundamente, quando censura o meu sentimento. Tudo bem que não o queira, tudo bem que o julguem estranho, mas era algo pacífico, dócil, até nos momentos que tomou forma de despeito. Se enviei reclamações e questionamentos, foi porque era importante entendê-lo, perceber o erro cometido para nunca mais cometê-lo. Nunca quis agridir a pessoa que desejei, entretanto, sou humana e, certamente, também erro, também cometo milhares de equivocações. O problema que me encontrava, era algo que eu deveria ter resolvido comigo mesma e foi o que fiz, ou tentei fazer. Quando vivemos num mundo cinza e compeltamente frio, todo o acolhimento é um calor necessário. Foi isso que pensei, pensei que não faria mal ela saber o quanto alguém a queria bem, forte e livre. Na maioria das vezes, enviei o melhor que me restava, palavras que me entalavam a garganta e mereciam liberdade. Porém, entendi, talvez tarde demais, que meu amor nunca foi visto com bons olhos, por olhos brilhantes. Tudo que eu fiz, virou uma imensa agressão e, para esquivar-se, ela não enfrentou, abaixando-se para o soco retornar ao meu peito. Tomei tanta paulada que virei triste, mas tudo bem, partiu de mim, voltou pra mim, ela quis assim e eu aceito a condição. Era como um beija-flor que nectarizava as flores e, de repente, virava um morcêgo solitário, que bebia sangue. Mas até os morcêgos são inofensivos e merecem respeito, e até quem desrespeitou, se não o fez com intenção, merece respeito. Há que ser escrito um pedido de desculpas, mas pelo o quê mesmo? Vou formular sem saber, sem entender bem, mas vou, pois sempre cultivei na minha essência a capacidade de reconhecer minhas falhas. Peço perdão por ter externalizado o meu sentimento, por ter entregado, sem que houvesse autorização, o que eu sentia, peço perdão por ter sido invasiva, escrevendo desejos errantes, perdão por tudo, absolutamente tudo que causou o meu querer e, também, por tudo que ele não causou, perdão por ser assim, impulsiva e intensa, perdão por ter sonhado, por ter admirado, por ter sentido tesão por quem não poderia, perdão pelas inúmeras mensagens sem respostas e pelas as respostas que nunca entendi, perdão por ser eu!
Meu último contato, deu-se diante do desespero que senti ao constatar que fiz tudo tão sincera, tão ingenuamente e virei um monstro, alguém que precisa de ajuda. Mais um perdão, é que acho isso incrivelmente triste, duma tristeza absurda. Nunca a faria mal, nunca a tocaria, nem nela e nem em quem fosse, sem que houvesse consentimento, Nunca a agrediria, nunca a prejudicaria, mas foi somente o que fiz. É que o mundo atual é deveras tecnológico e, de fato, mensagens, e-mails, músicas, poemas, são um tocar obrigatório, quando os olhos não conseguem controlar-se e são curiosos. Percebo, claramente, que preferia ter sido ignorada, mas não agora, não no último contato, pois esse não fala em amor, fala somente na dor do desentendimento e da dúvida. Não sei o que acontece e, dizem, nunca saberei. Resta escrever a verdade que me pertence. E é essa que está aí, escrita não pelas minhas mãos, mas pelo meu coração, como todas as coisas que já vomitei aqui e em todos os lugares. É tão difícil não deixar a esperança morrer, eu a cuido, ela vive doente, sua imunidade é baixa e todo o ato desumano que a alcança, a faz cair na cama. Eu a levanto com meus braços, a injeto fé com poesia, fotos, músicas e ela volta a caminhar. Minha maior luta atual é não deixar de acreditar, é seguir crendo que, por mais que hajam pessoas de pedras, são pelas de manteiga, pelas que se derretem e mudam com a lua cheia, que devo viver.



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

sola colada

Pasárgada está longe
vamos, todos, cuspir no rei?

eu estendo minhas mãos para ancançá-la
parece uma nuvem, uma miragem
parece um delírio criado da minha vontade

quantas paixões podem brotar de um coração morto
quantas cores podem espelhar olhos negros?

Eu vejo um arco-íris quando a vejo!

percebe-se a carência do sol
tão majestoso, vive sozinho
e porque eu não viveria?

ocorre que um céu nublado é proteção
da tristeza nasce a força
são pés cansados que pisam em cacos de vidros

- Pára! - grito- é preciso não buscar nada

é de repente que um abajur acende
para, depois, os dedos voltarem a enchergar
enquanto que os olhos voltam a sentir.

cabelos negros, ruivos, loiros
uma única cama esbanja tanto
Soa insignificância
entretanto, aquela dor que habitava
vira poesia sem nexo aos que a lêem

explica-me quem és
assim posso entender melhor o silêncio posterior

o amor, quando grandioso, é ausente

há corpos foragidos
ninguém nos salavará

vizinhos desconhecidos que choram ao mesmo instante
todas as lágrimas conectadas pela desejo comum

Milhares de sonhadores que sonham com a mesma imagem

que sentido, senhor?

descubro, diante da tranquilidade,
que a paixão descarta relógios e
se o pensamento nos cansa,
é o tédio gemendo desentendimento sobre a realidade

sou uma flor quase morta
Tranquila e conformada
esperando um regador
que só pode aparecer
se eu não o necessitar, se eu não o quiser.

um pássaro rasga meu peito,
quer partir
migrar para a terra da paz
que sempre ignorei

tudo que eu preciso
absolutamente tudo que eu quero
depende da solidão
somente só, o homem encontra a liberdade-felicidade.






sábado, 31 de agosto de 2013

sábado

perambulei as ruas na chuva
Renato dizia-me a verdade
minhas semanas são extensas
minhas horas duram uma eternidade

te esperar é o tema de casa mais dificil que já recebi
são dois anos e, penso, cem páginas concluem pouco
quase nada.
Pra ser sincera, estudo o assunto o tempo todo,
estou na graduação

mas...

Espero que a minha dissertação de mestrado seja um manual da tua felicidade

já sei que descontrolo teus olhos
os faço rebeldes, eles são o que és e escondes
tenho que ocupar teus sonhos
para que vejas todos os sorriso que posso te arrancar

pintar a parede do teu quarto de verde
para que, no teu despertar, te depares comigo (esperança)
costurar teu vestido azul
e dizer-te o quanto ficas bela dentro dele, ou quando danças

ainda no teu sonho,
amor, grande amor,
talvez eu apareça num cavalo
todavia ele será preto
mesmo assim, eu posso ser encantada
mesmo sem nenhuma barba no meu rosto...

é por ti que faço a revolução!
Todos, por todos esses longos, tão longos dias

amanhã é domingo
teus segundos te devorarão (ou não)
eu mudarei os móveis de lugar
vou pedalar a cidade cuidando os carros
mas não temo um atropelamento:
tenho medo mesmo é de passar mais um longo (muito longo)
dia sem, sequer, ver teus olhos

Thais rima com nariz
e - que irônico - com feliz
Mas só Thais fecha mesmo com Thais
até ao contrário, de qualquer jeito
nenhum outro nome tem o mesmo número de letras,
o mesmo som e um acento agudo no I

Entretanto, são só desvaneios do alcool batendo...

O morador de rua não tem casa e dorme na chuva
a chuva me cura, me leva pra longe
ele me inveja, eu só quero esquecer
ou apressar os ponteiros do relógio
pra chegar rápido o dia D

dia D ser feliz, dia D sorrir...

Até a letra D pareço um sorriso
quando penso nos meus dedos contornando a tua boca
e a minha boca beijando a tua nuca

É, eu sou louca!

nem é mais uma fossa
nem é mais uma agonia

tá virando uma calmaria que assusta
Estou parecendo o Fernando que caminha pelo Bonfim
saindo da rua Bento Figueredo
certamente, ele também está esperando o fim

ou o começo!






















quarta-feira, 21 de agosto de 2013

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

a morte da angústia

teu nome, Augusta, é angústia
e tuas pupilas são cifrões
tuas mãos, Maria, dançam balé
e espalham melancolia
e teus pés, René, pisam sempre em falso
Espio-te pela janela
- Manuela, não faça isto!
meus olhos te gritam
teus ouvidos, Berenice, só escutam chatices
Escrevo-te um poema-canção
o João dar-te-á um avião,
todavia, Sofia, teu céu será cinza
o Zeca, ECA, usa terno e gravata
mas tudo bem, Rebeca, ele usa cueca.
Lá  vem o Manuel, de barba, numa mercedes.
Mas, Matilde, eu, Neruda, te falo de amor
Ai de mim, Dolores, castigar-te com as minhas dores
Já o Vicente, das costas quentes, te oferecerá um anel
encolho-me, então, e derramo minha lágrimas no chapéu
que recolhe as esmolas do teu afeto.
sento-me no chão da miséria, Valéria
e rasgo o bilhete da megasena.
Peço a morte de Augusta
entretanto, ela se arrasta e me pede perdão
Ela não sabe bem por que está aqui
diz-me que nasceu assim, triste e atormentada, está conformada
dou-lhe outra poesia, mas Luisa não fala minha língua.
É hora de partir, pois não quero arremessar pedras na Geni.
começo a andar pela avenida, pensando em Carolina
ensaio o que eu falaria, se Camila me ouvisse
Se eu fosse Luis, a diria:
mulher, sei bem que quero e posso te fazer feliz.







sábado, 6 de julho de 2013

felina

de todos os amores que vivi, sobrou o desamor
e, instalada no meu estômago, a náusea sartreana.
Simone o derrotou (talvez)!
tantos nomes me puseram de joelhos, eu sei,
todavia, Sartre, eu, tu, todos
só somos vencidos por nós mesmos

(pausa da ironia: tem meu nome quem atirou-me no peito
e findou, aniquilou, pisoteou todos meus planos, enganos e a minha alegria)

temo que eu nunca encontre a verdade
o seu esconderijo nas almas que conheci
haviam porões, sotãos, quartos secretos
que meus olhos nunca avistaram
entretanto, nunca permiti que a desistência me tomasse conta.

há dentro do meu ventre
a força de um leão
E, diante da tentativa de morte da esperança,
eu pari a resistência

toda força verdadeira, nasce da dor e tem sangue
meus olhos, que são olhos bazuca
explodem o medo
e enfrentam, cotidianamente, o medo do medo

- O que houve? alguém me interroga!
aconteceu a implosão, tombaram-me enquanto escrevia um poema
e meu corpo expeliu, naquele dia, a fraqueza e a derrota
ao pés de quem me esfaqueou com conchavos de amor

eu sorrio, há loucura, não nego
mas não rezo para alguém
meu deus sou eu
e ele é sozinho e feio como uma coruja

Não te aproxima, não é preciso avisar
verás, ao meu ver, que não te quero mais aqui
meus pelos arrepiam-se diante da nojeira
e sou capaz de saltar como um guepardo
fazendo-te sangrar até o fim com uma única mordida
(metralhadora de palavras, mil balas cuspidas com a força da minha boca)
mas faço isso pela frente e te olhando fixamente
Pois sou homem gato, mulher gato.
e me ensinaste com perfeição, professora da desilusão,
que no meu telhado só ha espaço pra mim
e o reflexo da lua.

sábado, 22 de junho de 2013

quando o peito fica tão vazio


eu penso em saudade
eu penso em amor

tudo é completo, sendo pela metade

tudo é desamor

as canções falam em grego
dá vontade de chorar

eu queria até sentir medo
mas minha alma não sabe se amedrontar

eu escuto sinos
de repente, bombas explodem os sonhos

são pés que marcham sozinhos
no meio de uma multidão

quando vier a escuridão
os poetas e os cegos abrirão o caminho

a força da luta há de vir do coração
há que se ter, ainda, algo no peito

daí, o desfeito após o feito
anulará meu defeito

minha namorada é a solidão

minha arma são meus olhos
que disparam dor e cansaço

meu fracasso é a minha vitória
do meu lado, minha sombra me abraça

e eu não te quero aqui

nunca te quis aqui

...

nausea

(pausa pra pensar)

rompeu a corda, desfez o nó
sigo mesmo só e daí?

NÃO TE QUERO AQUI!

reflete, consegues?

não me olha assim!
(em tom alto, um soco na parede)

NÃO OLHA PRA MIM!

de novo, a náusea

vomito meu sangue
vermelho de paixão
tem gosto de vinho
mas gosto apodrecido

morre, eu exclamo
arde o (des)sentimento

deus, vem cá!

(anestesiada)

(náusea)

o que eu fiz de mim?

(gargalhada)

nas minhas mãos há força

veja o que eu virei!
não veja

NÃO OLHA PRA MIM...





quarta-feira, 12 de junho de 2013

não luto mais

é provável que um dia minhas mãos cansem de escrever tristezas. ontem perambulei as ruas, sozinha, cena decadente. eu ando bem cansada dessa amargura instalada em mim. as coisas bonitas que meus olhos avistam, são pequenos momentos que vão embora. minha cama está vazia há bastante tempo e não por falta de opção, é a minha escolha. não me entrego mais pra ninguém, não quero e não posso. não posso porque seria um engano e temo o eco, respeito o eco. não quero emanar ao universo a minha dor, pois desejo que ninguém a sinta, além de mim. e quando ela partir, que ela parta pra sempre e não retorne nunca mais ao meu coração. existe uma doença fixada no meu peito, uns chamam de amor, outros dizem não entender. é um buraco, oco e vazio. e, mesmo assim, ainda sinto. já secou, já instacou a hemorragia. não morri, não suicidei, muito menos matei. cuidei, zelei meu coração para que ele não apodrecesse, todavia não dependeu só de mim. errei muito nos últimos anos, maltratei almas, falei em amor sem sentí-lo verdadeiramente. era fuga, por certo. eu queria, desesperadamente, virar uma página que não se vira. tenho saudade da minha vida antes disso tudo. como era tranquilo! minha referência de amor, era sadia. eu tinha um corpo real em cima do meu que agora esquenta outro corpo. estou sozinha, triste, muito triste. entretanto, prefiro assim. só volto a dividir-me se, um dia ou uma noite, eu possa abraçar forte alguém, sentido vontade real disso. caso contrário, aceito a solidão. se a humanidade não me entende, tampouco a quero por perto. meus gatos me esquentam inverno adentro. são sinceros e, se voltam, é porque querem voltar e, se um dia não puderem voltar, basta - pra mim - saber que eles adorariam estar ao meu lado. bastava saber que ela queria, embora não pudesse, mas ela nunca quis, nunca pode. dei um sentimento do tamanho dos andes, tão grande que explodiu, não pude evitar. era algo que nunca tinha vivido. também não soube agir. se eu tivesse encostado, em silêncio, a teria perto e, certamente, não estaria tão triste. mas a mandei pra longe, escrevi o pra sempre numa história que nunca começou. equivocada, ansiosa, destroi, sozinha, minhas esperanças que já eram pequenas. se eu pudesse voltar ao passado, não a teria olhado, mas se isso fosse inevitável, faria tudo diferente para, pelo menos, seguí-la olhando por muito e muito tempo. parecia verdadeiro, vejo fotos de casais, é dia dos namorados (que ironia) e não vejo amor em parte alguma. eu o via nos meus atos, mesmo errados, na noite em que fiz de tudo para vê-la sorrir. guardarei meu único acerto com carinho. vou lembrar pra sempre da forma como ela me olhou, fechando os olhos... pra mim, é isso. pelo menos, hoje, nenhum sentimento ruim está comigo e sopro com o vento coisas boas à ela. vou seguir por aqui, talvez um dia passe, mas se não acontecer, ninguém mais saberá. ela só saberá se quiser saber, se vier até aqui e ler. e, se ela vier, deixo registrado que não tenho vergonha das minhas falhas e nem da minha caligrafia feia. tudo que eu senti, eu falei, eu escrevi...foi pra ela que dediquei o maior sentimento, que não desejo nomear, que já vivi. estou em paz, pois a tristeza machuca, mas minha consciência está tranquila. aconteceu uma revolução em mim e, acredito, teria acontecido de qualquer forma: mesmo que eu sufocasse, nada permanece escondido por muito tempo. criei a bomba atômica, não há mais passarinhos e nem árvore para serem derrubadas, o rio está impróprio para banho, ela não veio, nunca virá e, temo, ninguém mais virá. quem desejaria viver em um deserto?



terça-feira, 4 de junho de 2013

golondrina libre

bebi meu violão
bati o cigarro no cinzeiro
parei num puteiro
afrontei a solidão
tranquei na masmorra teus olhos sujos

na tentativa infeliz de estancar a hemorragia

mas meu coração apodrecia

cada beijo que minha boca lançava
despejava na minha face uma lágrima

todas essas companhias...

eu suspiro dor e agonia

meus sonhos se desmacham no chão da cozinha
dessa noite fria...

não choro mais por ti
a roda viva calou minhas reclamações
pintou um outdoor na frente da minha janela
com letras de sangue e fotografia triste

foi embora a juventude
a doçura, a fé

piso descalço no cimento

congelo, pouco a pouco, por dentro

mas ainda sinto
(e como sinto)

todas as dores do mundo
estão presas na minha traqueia

Exclamo: é a morte
vem com a chuva a despedida
ela parte prum universo limpo
morre velha

eu morro jovem, morro viva

pero, cariño, yo soy una golondrina

libre, libre

meu amor, que era gigante,
fortaleceu minha coragem
que hoje é do tamanho dos Andes.

nada temo,
as tais pedradas do caminho
acertam em cheio meu peito
mas, como as árvores, permaneço em pé.
abismos?
eu sou a queda livre
ventania?
eu sou a tempestade

o passado é a minha rua, mão única
te querer foi como engatar a ré

agora ando pra frente, de cabeça erguida

bebi meu violão,
brindando o fim da expectativa

ninguém mais eu quero
ninguém mais eu espero no portão

soy una golondrina
sola y libre
Nadie más va a quemarme, matarme
porque ya estoy en el cielo lejano
las crueldades del mundo ya no me alcanzan
aunque me hacen sentir y llorar
mi corazón se convirtió en el viento...
ahora mi poesía es para la lucha
mis versos escriben la fuerza que tengo en mis manos
y mis ojos son dos nubes de libertad
gritando en voz alta que estoy viva
y todavía puedo soñar
un sueño sin pasión y llena de amor
el amor de la humanidad
yo estoy libre de ti.








sábado, 1 de junho de 2013

quinta-feira, 30 de maio de 2013

now we are free

Olho um retrato, um que sobrou por aqui.
Não sinto nada

Pergunto, olhando teus olhos, porque fizeste isso comigo?
porque pregaste meu coração assim
porque tanta maldade...
porque tanta loucura...
porque tanta covardia...
porque tanto moralismo...
porque tanto preconceito...
porque tanta desigualdade...
porque tanto egoísmo...
porque tanto medo...

morreste aqui dentro porque mataste
e quem mata, também morre, nena.



noite

Caminho pela calçada, passo em frente ao portão que tantas vezes entrei. Ninguém mora mais ali. Sigo, gotas finas caem, as estrelas sumiram do céu. Alguém se aproxima, pede companhia e não o que tenho. Alguém quer conversar, ele é tratado como bicho, mas não morde. Quer, de mim, humanidade. Seguindo, mais a frente, vejo jovens, vejo a alienação. Não sabem ou ignoram as dores do mundo, bem vestidos, bebem e dirigem seus carros. Coitados, acham que são felizes, com suas roupas caras, seus sapatos costurados por mãos infantis. Chego em casa, abro a porta, passam 5 viaturas policiais, todos sérios, cumprindo um dever doentio de proteger o patrimônio para terem o que comer. Sento-me e escrevo, o telefone toca. Pessoas me ligam, a justiça não existe e come os sonhos dos que ainda são capazes de sonhar. Vou para lá, 70 olhos brilhantes. recupero-me, injetam em minhas veias uma dose alta de esperança. Sento na roda, todos iguais, alienígenas como eu, todos com o sangue azul. Cantam, ainda, cantam a mudança. Olho para o céu, entre as árvores - que não existem mais- a lua. Registro a cena, memória fotográfica, se meus olhos fossem uma câmera, seria uma das fotografias mais lindas que alguém já viu. Dois homens de verdade tocam violão e cantam o mundo tão desigual...Eu poderia conter as lágrimas, mas ainda estou viva. Elas caem sem pedir minha licença, todavia não molham de tristeza o ambiente. É bom estar aqui, eu penso. Entregam-me um papel, um papel judicial que manda todos saírem daquele lugar, um mandado que ordena à todos que não sonhem. Vejo o prazo, ainda temos tempo, eu digo e ouço que vamos resistir. O vinho barato passa de mão em mão, pobres, ricos, indigentes, todos tem bocas iguais e bebem e compatilham tudo. Sinto uma mão alisando meu ombro, olho ao lado e vejo uma mulher, uma mulher de verdade. Vejo, também, um sorriso mais doce que cachaça com mel, que caipira açucarada em excesso. Ela me agradece. Pelo quê, eu me questiono. Ela diz que precisa descançar, não dorme bem há dias, tem os olhos cansados, mas repletos de força. Ela é linda, lindíssima e quando apertamos as mãos, eu me senti viva. A noite segue, não se arrasta, segue calma, o vento balança as barracas, as árvores que não existem mais. Agora o morador de rua dos olhos cor de mel, quase verdes, senta ao meu lado. Diz-me que vai me proteger. Eu quis dizê-lo que não era preciso, mas mesmo com o corpo massacrado de rejeição, de violência, ele sentia necessidade de abraçar e de dar proteção. Ele, escória da sociedade, da sociedade normal, ainda sabe o que é amor. Explicou-me porque os olhos dos negros são tão escuros e o dele não era. Falou-me que era preciso olhar diretamente ao sol para ter olhos grandes e que as geleiras e o frio pintavam de azul os olhos dos gringos. Deite-me na raiz de uma das árvores, que não existem mais, ouvi histórias, não falei muito como sempre faço. Um homem com cara de mau perguntou se poderia ficar ali comigo, eu deixei. Sorri com a alma quando percebi que se tratava de valentia e não maldade aquela cara amarrada e séria. Ele perguntou se eu gostava de chocolate, respondi que não muito, então ele levantou-se e retornou com um para mim, disse que adoçava o coração. O vento gritou que eu deveria ir embora, levantei-me e não existia como sair daquele lugar, não passavam carros na avenida, muito menos algum táxi. Fiquei parada e disse que tinha sorte, olhei para a esquerda e vi um ônibus. Pararam para mim com boa vontade, levaram-me até a rua da minha casa. Chego em casa e coloco-me a escrever. Em segundos, a notícia, todos do acampamento estavam presos e as árvores que tinham banhado meu corpo, minhas mãos de paz não existiam mais. Meus novos amigos que vieram do mesmo mundo que eu, estavam algemados e machucados em alguma delegacia do planeta terra que é habitado por seres humanos desumanizados.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

cristalino (parte 2)

e o pierrot, errou
coitado
viu uma flor
num arbusto velho e encolhido
meio morto, meio vivo
um horror!

o pierrot errou
mandou vida, fez poesia
deu um presente
fez palhaçadas, queria a alegria
alimentou uma serpente.

deu o coração
recebeu a humilhação
pobre pierrot

morreu na sarjeta, embriagado
com o rosto pintado de sonhos
e as mãos sujas de humanidade

Pierrot virou Arlequim


cristalino


Tu que colecionas o amor que recebes
sem intenção de amar,
que alimenta a esperança 

doce, como é doce e atenciosa

(covarde)

não sabe a maldade que comete

coloca um cego no deserto
só por ego, vaidade.

Depois, o eco chuta a tua porta

E todas as lágrimas que causastes
subirão, contrariando a gravidade,
para caírem, então, dos teus olhos 

tu estarás sem a visão

(que aflição)

é que na vida, meu amor
todo mundo encena,
cedo ou tarde, 
o pepel do Pierrot.



quinta-feira, 16 de maio de 2013

foi

me posto a escrever
por mim, só por mim
a dor deixa dormenta minha mãos
e eu repito, a cada segundo, que nunca mais
nunca mais...

quem dá isso hoje em dia?
a cachaça tá vazia
esse é último dia

maio venceu agosto
mais um inverno pra torturar meu corpo
não tenho nenhum escape, nenhuma vontade

se eu levantar amanhã, é porque meus ossos cansaram da cama

eu escrevi uma carta, um crime no século que vivo

nada é de graça aqui
mas eu não coloquei preço
mesmo assim, foi negado

eu não falo a lingua dos homens
tampouco a dos anjos

foi com o vento e veio com o frio
essa tristeza que ultrapassa o amor
alcança o existencial

que me adianta estar aqui?

está acabando a carteira do cigarro
e o tempo de sofrer por ti.

AMANHA VAI SER OUTRO DIA...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

sun

é complicado estranhar o bem estar, a tranquilidade. ela voltou pra mim, finalmente. as tempestades de agora são formadas no céu e atingem a todos. já não sinto medo da solidão, do não de ninguém. estou livre, incrivelmente livre. quem encosta, sente. meus passos voltaram pros meus pés, minhas mãos até dançam por aí, sem desejar ninguém. eu posso até trocar olhares, mas nunca mais dou meus olhos pra alguém. são meus. são eles que me mostram hoje a ironia da vida. perdi tanto e, na verdade, não perdi nada. quem foi embora na hora do incêndio, não merece ficar para ver a primavera comigo. a roda viva do coração é foda: gira que nem roleta e eu não tive sorte. foi preciso tempo pra levantar da mesa e não apostar mais. estou sentada na beira do rio que sempre esteve ali e eu, presa, nunca vi. ele é lindo, o sol é lindo. eu estou aonde quero estar.


I feel that ice is slowly melting


Here comes the sun
Here comes the sun
And I say
It's all right!!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

centésimo poema de amor (sem amor)


relutei para sentar-me nessa cadeira

e escrever o poema cem.

sem ela?
nunca com ela?
ainda sem ela?
sempre sem ela?

não, não são cem poemas de amor
e uma canção deseperada:
são cem escritos desesperados e
uma canção de esperança!

esse aqui, não é mais especial
junta letrinhas que dizem sempre a mesma balela
percorrem ondas magnéticas
são versos aflitos que bucavam um sorriso,
mas só arrombam a porta dela

na medida que o tempo passa,
a madeira vira aço?
a retina fica  esbranquiçada
e nada mais vê?

catarata é ela pros meus olhos!

nada do que escrevo, falo,
a penetra
não, 
meu sexo não permite invasão;
ele recebe.
minha poesia recebe dela,
um banho de água fria
nem um suspiro, nem um ...um..."que lindo"
não serve nem como papinha pra vaidade!
são poemas invasivos, a invadem toda
 e nadam dentro dela até o ar acabar
depois?
morrem afogados, assassinados pela razão!

meu centésimo desabafo,
que bafo!

será que Matilde sorriu?
a Mafalda nem leu.

amanhã escrevo a tal canção de esperança
hoje nada em mim, nem uma titiquinha, acredita
(mentira)

ou, talvez, escreva mais cem bobagens
ora, me atrever a rabiscar sobre saudade!

cem poemas de amor sem amor

formei-me, sou poeta, aquele tal fingidor
diplomado na arte de quê?

que louco...

sabem,
mais louco ainda é que
cem poemas de amor, pra ela,
foram pouco, muito pouco!
tão pouco, que se fossem escritos a punho
virariam folha amassada
jogada na lixeira orgânica
misturada com as frutas estragadas
junto com aquela maçã esquecida
que apodreceu na geladeira
porque nenhuma boca a mastigou.

é, são cem poemas de amor!
sigo sã? algum dia fui?

bato na mesa:
-maldito professor Chico!!
eu, aluna relapsa, estava presente
naquele infâme dia quente
em que ensinastes toda aquela pobre gente
a enchergar na escuridão.




domingo, 5 de maio de 2013

delirante

esse sereno da madrugada
minha voz rouca
meus traços deformados da febre

minha boca costurada
essa imagem no espelho que desconheço

um eco alto ensurdecendo
uma alma oca
vazio, casa sem móveis
delírio do alcool
medo da solidão
ele me diria que eu cavei meu próprio buraco
essa dor sórdida e fiel que não abandona

minha lingua dormente, sentindo mil gostos
sem sentir absolutamente nenhum

meus dedos tarados
esse desejo em rasgar tuas roupas
te ver de olhos bem fechados
esse sussurro que nunca veio

essa espera

seja o que for, essa esperança maldita
de que o dia amanheça diferente

esse sonho desconecto
jogado num canto, esquecido por todos

eu abro meus olhos
de imediato, me remetem teu rosto

essa poesia que não toca
que destrata, que agride

essa perturbação medonha

uma conta zerada, um ano que não passou

minha planta morta
essa desatenção

o gato no telhado mia a vida
(eu fecho a porta)
a morte fala meu idioma

sangro

uma hemorragia que não finda
pelo chão, escorrem pedaços

essa parede invertida, de cabeça pra baixo
duas mãos,
essas unhas roidas

essa minha ruina

ouço vozes, mandam-me ter calma
- mas como - eu grito - eu tenho alma!?

esse suspiro que não puxa ar

um limite invisível
até onde se vai?

eu arremesso pro céu com toda a minha força
tranco os pés no inferno pra não ir

esse cotrato oneroso

essa lei intocável, clausula pétrea
rasgo, invoco o poder constituinte
a onda gigante arrebenta a pedra, mas não fura

pra onde vão os pássaros esse ano?
sempre pro mesmo lugar

mês que vem eu pago as contas
renasco, firme e forte

agora, enfio o cano na boca,
e como uma bala

não estava, não estou e não posso ir

onde estão as cores desse filme cinza?

critico e convenço

não mais!

nem eu me elejo
voto em branco

assino teu despejo, reconheço firma

essa cama tão desarrumada
é o reflexo do meu coração






segunda-feira, 29 de abril de 2013

ensaio do adeus


Drummond alertou-me
Que de tudo, fica um pouco

O pouco de mim em ti
Desenha uma ruga a mais em teu rosto
Pesa um cansaço a mais em tuas mãos

Aquele sapato com o salto quebrado,
jogado no armário.

Eu permanecerei quando tua boca, oca,
Secar de solidão

Uma unha quebrada que não cresce
pintada de esmalte permanente preto

Nos teus cabelos mortos caídos pelos lençois
Na mancha de sangue de alguma calçada

Verás meus olhos, o pouco de mim em ti,
Nas pichações dos viadutos sujos, 
talvez no centro da cidade,
no olhar de um marginal, na expressão ingenua,
todavia forte, da juventude

O pouco, o quase nada, de mim, em ti estará

Nos pés descalços dos meninos do sinal
Na lua cheia invadindo teu apartamento
Num hospital, num manicômio
Numa quimioterapia, nas tuas terapias

Na criança que te aponta a língua.

No teu enjoo do cheiro de esgoto,
Nos ares ruins de Buenos Aires.

Na tua identidade!

O muito de ti, em mim, estará
Nas brincadeiras de cabra cega
Nas camas dos hoteis
Nas ruas de Barcelona
No cheiro dos livros que me forçarão a ler
Na audiência presidida, na audiência assistida
No parque do Moinhos de Vento

Nas enchentes, qualquer catastrófe da natureza
Ventania, ondas gigantes.

Nas pessoas inconvenientes que me incomodarão

No porão da casa que não existe
No tango de um Gardel triste

Nos quadros negros, num giz
Um microfone qualquer

Na fúria dos olhos que me fuzilarão
Nas músicas do Chico, do Silvio

Na minha identidade

Na saudade humana pelo que não se conhece

Na caixa lacrada no canto da sala
nos vestidos coloridos da Mafalda

Nas segundas cinzentas no Rio de Janeiro que atravessa abril
na tosse de alguém engasgado
no jogo da forca

Do pouco que tive de ti, ficarás muito

Por pouco, deu tempo de parar
barrando  para que  não estejas em tudo

É a presença fatiada: metade aqui
e a outra metade desconhecida.

Thais Dornelles


sexta-feira, 26 de abril de 2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

dinossauro

a mesma mão que engatilha a arma é a que retira as balas.
no labirinto das emoções, a razão é invisível.
o sinônimo de humanidade é confusão
não, não é racionalidade.
um sentimento forte somado a outro pode virar zero.
depende só de quem faz a equação.

somos carne rumo ao apodrecimento
todos com medo da morte
então alguns aceitam trocar o coração verdadeiro
por um de plástico colorido

abriram meu peito, tiraram de mim meu direito
das flores da primavera, só sobraram as folhas do outono
o fogo não mais esquenta
as mãos são geladas, se escondem do toque
vão para o bolso.

os olhos, diante de olhos que enxergam
olham para baixo, olham para o lado
eles não miram o presente,
são pedras esquecidas no passado.

as feridas vestem marcas, roupas caras
do tédio, nasce uma aquisição
que retira um sorriso curto dos rostos tristes

eu vejo da minha janela
um paredão cinza,

o sol desistiu do homem, vai se distanciando
sua intenção é derreter as geleiras
que habitam o coração humano.

domingo, 21 de abril de 2013

trata (do) da loucura (com (a)


ela nasceu mulher para que não morresse de coragem exagerada.

agora ela entende o porquê! é pra morte se arrastar e seus olhos não fecharem de imediato. se fosse homem, com braços fortes e barba mal feita, já a tinham matado, ela já teria matado, mas é mulher dos cabelos pretos, mãos delicadas e da pele macia e lisa. o rodopio das ideias inacabadas a torturam diariamente. é possível que ela envelheça e até a convençam de que é louca. o que a espera é a solidão. por conforto, ela repetirá pensamentos em seu cérebro que a tranquilizam. dirá todos os dias diante do espelho que pessoas inteligentes são sozinhas. ela não quer morrer, todavia a vida parece um fardo. mas não há do que ela reclamar. todos dirão isso o tempo todo até ela ceder por completo, entupindo-se de pílulas que remediam, mas não curam. uns farão perguntas, a estudarão e ela perceberá, sempre. nada mais óbvio do que afirmar loucura para negar a realidade. uma louca chora no escuro, não incomoda. os problemas de verdade - dirão - são bem mais sérios e são. a louca de estômago cheio e vida fácil. ela olha ao redor e vê miséria gritante onde há fatura. porque alguém ouvirá sobre alma, se o corpo está em pé? se o mundo pegasse seus olhos por minutos seria possível entender. seria? nada melhor e mais simples, menina, que aceitar a condição humana, tão limitada e desumana. quem chora pelos que tem fome agoniza muito mais que os que tem fome porque nada pode ser feito. dar de ombros, aceitar o vazio existencial, comprar uma bicicleta, beber todas as noites ameniza a impotência porque a anula. quem é vazio não sofre as dores do mundo e é escutado. adapte-se, durma cedo, coloque no ralo o seu tempo e quando a fúria do teu coração explodir teu peito para ser escutado, tome um antidepressivo e babe a fronha do travesseiro com um sono pesado e sem sonhos.

volta agora, abra os olhos, já!!

rasgue as convenções, anule os contratos. se todos disserem  "vá para a esquerda", não vá, tão pouco vire a direita, siga em frente. talvez tuas percepções, tua intuição esteja equivocada, ainda assim não tome como verdade absoluta a impaciência e incapacidade humana em entender o amor.

terça-feira, 16 de abril de 2013

viva la vida

o amor e a obsessão
caminham lado a lado
um é iluminado pelo sol
outro vaga na escuridão
tão difícil, parecem irmãos gêmeos idênticos.
mas olhando com atenção,
dá pra perceber que um é ermo e feio.

todas as juras, pareciam reais
meras palavras bonitas, então?
papéis sujos, contaminados que vão pro porão

não toque em mim
me examine de longe, sou um rato
tua paixão pelo crime
tornou-me quase uma criminosa

de repente, sou um sapo
eu, que falo tão bem de mim, não sei quem sou?
sou a rejeição em fúria
um soco no estômago do meu agressor

dorme agora,
minha escopeta
mirará outro alvo

desculpe as balas de tinta

meus olhos não te reconhecerão em pouco tempo
teus olhos não me verão no inverno
quando a estação mudar, o calor voltar
eu que não sei o que é o amor
vou controlar minha loucura
sem a tua solidariedade ou ternura

730 dias apagados a borracha
com o movimento das minhas mãos
e a força da minha vontade

lá na frente, vou virar para ver o passado
não haverá paixão
e nem saudade.

o paraíso é pro outro lado


.


sábado, 13 de abril de 2013

eu sei mentir! (eu sei?)








Cannonball

There's still a little bit of your taste in my mouth
There's still a little bit of you laced with my doubt
It's still a little hard to say what's going on

There's still a little bit of your ghost your witness
There's still a little piece of your face I haven't kissed
You step a little closer each day
Still I can't see what's going on

Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannonball

There's still a little bit of your song in my ear
There's still a little bit of your words I long to hear
You step a little closer to me
So close that I can't see what's going on

Stones taught me to fly
Love taught me to lie
Life taught me to die
So it's not hard to fall
When you float like a cannon

Stones taught me to fly
Love taught me to cry
So come on courage
Teach me to be shy
'Cause it's not hard to fall
And I don't want to scare her
It's not hard to fall
And I don't wanna lose
It's not hard to grow
When you know that you just don't know

Damien Rice