Despenca um coração
como se o ano fosse um penhasco,
passando por diversas mãos e pedindo segurança.
No frenesi da solidão e a sua dança
normalmente acompanhada, sempre sozinha.
Corpos inteiros, apertados pela superficialidade
Apartamentos escuros, as visitas preferem a sala, a cozinha
já que o quarto vomita verdades.
Não entre. Entre, por favor, venha
a cama engole e, como uma tela de cinema, mostra segredos
o passado ressuscita no momento do orgasmo
e o grito de prazer vira dor, tristeza do dia que amanhece
um nome ecoa na memória, o que o tempo não perdoa
a cabeça não esquece.
Se depois da coragem o que vem é libertação,
o que segue a fuga é a vergonha.
A percepção alterada aponta uma pele, braços quentes
Embolado, o coração dilacerado, se enrosca pra vencer o frio
Como um pássaro recém nascido, quer um abrigo
um amigo...
pulsa de novo, batidas arrítmicas, trêmulas
o sangue volta a percorrer seu trajeto normalmente,
mas o fim é escroto.
Daquele abraço carinhoso, vem o impacto seguido pelo sufoco:
o amigo é um monstro.
Corre, Foge de novo o coração ingênuo.
1,2,3, pára por um tempo, o peito dormento
o vento sussurra:
melhor cavar, que as tuas próprias veias e vasos virem tua raiz.
De repente, aparecem mãos reais, mas a fantasia
todas e tantas mentiras, o fazem, valente, ter medo
e com a pá da agonia
ele se enterra, é mesmo sepultado
todos acreditam que o coração foi amaldiçoado
e está morto.
Rosas, lírios, um girassol, até um beija-flor o visita.
O nada e o tudo.
Será que nadou tanto e morreu afogado?
Enche, míngua, cresce, vira nova a lua
E na terra esquecida, cemitério dos desiludidos,
brota, forte e sozinha, uma árvore linda.
ele não é mais ele. Agora é ela, uma mulher
e como todas, nascidas na opressão viraram resistência,
parece que foi morta, mas está viva
e em pé.
sábado, 24 de janeiro de 2015
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
Não há poesia numa
vida vazia
nem música que
descreva o silêncio
corações
estraçalhados perderam a rima
que escorreu pelo
caminho
tudo acaba nas águas
dos rios, ou no salgado do mar
Ingrid, Afonsina,
Virginia...
mulheres, como eu,
ousaram
e todas morreram
sozinhas.
não há companhia
na sociedade doentia
os amigos sumiram
numa neblina
logo atrás das
árvores, eu os vejo
são vultos que já
não escutam.
a morte não precisa
ser física
a fumaça não
precisa ser pólvora
a bala poderia ser a
amiga que eu queria
aquela que se
alojaria na minha cabeça
talvez a única que
não fugiria.
Não há tesão em
corpos sujos de histórias
peles machadas de
memórias
e nem mais palavras
para bocas amaldiçoadas
que gritaram tantas
blasfêmias e espalharam tanta dor
ecoam os meus
insultos, ninguém está perto.
Bate o vento na
sacada, árvores dançam esquisito
uma mulher olha para
o nada e vê o infinito
não há nenhum
abrigo em tempo de guerra
caminham, sem
pernas, os sobreviventes
e descansam nos
túmulos os mortos.
Nos muros, algum
solitário escracha a ironia
perder é ter paz,
vencer é agonia
o troféu da
guerrilha, ela segura em suas mãos
tem forma espiral, a
tristeza o construiu, ninguém o vê
sorri, como louca,
era melhor segurar uma granada
e ser aquela que
explodia, por quem se lutava.
Não há luta sem
paixão.
Não há paixão
depois da juventude.
Em um quarto sem
lembranças
alguém encosta a
cabeça, fecha os olhos e tenta sonhar ainda
a saudade é íntima
tem a ver com aquele
rosto que aparecia no espelho uns anos atrás
e com aquelas
palavras todas na poesia, que enfeitavam os dias.
E que se perderam na
estrada e nunca mais serão ditas.
Juramentos nunca
cumpridos,
mas alguém os
cumprirá sem nem tê-los prometido.
Sempre há um novo
colibri
e todas viramos
violetas velhas.
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