quarta-feira, 24 de setembro de 2014

o porco

nasci ao lado de um porco selvagem
em meu primeiro suspiro, o vi indomável
na infância, o porco era o impossível
e nos momentos de perigo, ele era meu protetor.

eu, com muita calma e admiração, descobri
que em seu lombo poderia enfrentar o mundo
quando a vida parecia tranquila, andávamos lado a lado
todavia quando o céu escurecia
era montada nele que eu ia

nosso companheirismo era tanto
que eu era ele e ele era eu.
e juntos, as criaturas do mal fugiam
e as que nos enfrentavam,
eram derrotadas, embora umas achassem que não
a grande maioria abandonava a batalha assim que nele eu subia.

que bicho leal e forte
é uma conquista ser assim

não é qualquer um que sobe em seu lombo

antes de enfrentar a sujeira, tive que enfrentá-lo
e só é possível fazer isso quando se tem muita coragem
quando se tem verdade no peito e se consegue ver para além do espelho

ainda que me digam que montá-lo não é a melhor solução
eu tenho convicção que em cima dele, mesmo que baleada
mesmo que machucada, posso ser eu e posso ser aquela 
que tantos gostariam de ser

com o passar dos anos, eu envelheci e o porco também
agora, precisamos selecionar nossas batalhas
estamos mais velhos, mais fracos
mesmo assim, quando a coisa aperta, ele não me abandona:
vem rápido da natureza, com seus dentes gigantes
e me diz com seus olhos de animal incompreendido
que não estou só e que é preciso lutar.

Então, eu monto no porco e fico invencível.