sexta-feira, 24 de março de 2017

Vou embora, embora...

Eu dou adeus a perfeição imposta
Aquela mão que me acaricia, não me encosta.
A boca que me beija, beijos doces,  fica muda
E o corpo que pesa sobre o meu, desaparece frente ao erro
Eu grito por dentro, sei o caminho, mas não vejo cores sem ela
Talvez mais a frente, eu não sei.
Doi estar, doi na ausência, tudo é dor por agora
Toda a entrega desmerecida, meu amor virado em saliva
Que umidece o chão da calçada e desaparece.
Eu vivendo uma primavera ilusória
Vou embora, embora...
Pois na vida real é inverno e eu aqueço meus ossos sozinha.
Esfrego minhas mãos, uma na outra, em frente a lareira invisível
E bebo um vinho seco que me leva até você,
Fico aqui, esperando ser chamada para a sua cama quente.
Toca o som, uma música aleatória que descreve tudo que me fere:
Eu sou o que foram comigo, ela é comigo o que fui outrora.
O eco, a roda viva, a terra gira, tudo me apavora.
A minha calmaria é tristeza? Ou será que amadureci?
De todos os amores que provei, porque logo o seu é tão amargo?
Preciso ir embora, há uma queimação dentro de mim
Um impulso, que vem das minhas teorias,
me diz que não existe afago aqui, que é hora de partir.
Eu, que nunca fugi...
Estou ficando madura ou covarde?
Talvez o maior ato de libertação seja controlar a vontade
Saber dizer a palavra não quando, no fundo, se quer berrar um sim.

Compreender o desencontro e aprender a viver a saudade. 

Fragmentada

Eu sou um fragmento
Agora, eu vejo o elo distante entre alma, vida, sonhos.

Dentro de mim há um tormento, forte
Que sorri para a partida
E vê como amiga a morte

Uma amante despedaçada,
Vivendo um nada sedento de tudo
Com os olhos sempre abertos e atentos a este mundo miserável
E com pés fincados na realidade dura, frios por pisarem tanto tempo
Neste chão sangrento

Diante de mim, há estas rimas fracas
Um passatempo para o tempo que não passa
O sustento de um corpo pesado de existência
Duas mãos que abraçam a solidão por sobrevivência
E vagam pela noite, distribuindo desobediência

Eu prefiro os pés molhados de relento, qualquer coisa a isto.
Vou me calar, estou pronta para saltar,

mas

Sirenes da madrugada
tocam para lembrar-me que
minha ida é sem volta

Então eu sou o medo de todos os medos,
Quebro o espelho e recomeço
mais uma manhã fragmentada.







terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Outra

Outra porta que bati
Foram tantas que cada vez é mais fácil batê-las
O mundo faz isso com nossos corações
E nós, estupidamente, achamos que estamos mais fortes
Passamos a optar por nem abri-las
Sucessivamente mais covardes, mais intocáveis
Como se tais características fossem boas.

Outro sonho que perdi
Que enterrei ao lado dos meus medos
E dos medos de alguém
Como se o mundo já não fosse frio o suficiente
Essa realidade desorientada, triste...
Solitária em sua maneira de ser.

Outra boca que não mais beijarei
Porque julgam meus beijos apimentados

Querem de mim a calmaria que eu tanto procuro em vão

São mãos perdidas num espaço enorme
Que se batem quando insistimos em mexê-las

Do outro lado, há olhos cansados
Que nos dizem pela manhã que não mais lutarão
Se fecham para não mais enxergar o amor
E cada dia as camas são maiores
Para evitar o toque.

Cativar não é sinônimo de cativeiro
E responsabilidade não é uma palavra feia, eu disse.

Outra cortina fechada, mais uma janela gradeada

O controle é o seu maior desejo
Enquanto travo uma batalha feroz pelo meu equilíbrio
E tento convencer, sem sucesso, que podemos ser livres juntas.

Outros gemidos esquecidos
Noites que não significarão mais nada
Pois estarão enterradas no passado

Não me diga o quanto você aprendeu comigo
Se não foi capaz de ensinar-me nada

Sua experiência sabe bem a força que tem
Para aniquilar as esperanças de quem ainda acredita
E você ainda me grita que eu não sei nada da vida...

A vejo deitada sobre todas as vontades
Virando as costas para o novo
Enquanto meu rosto arde em lágrimas
E você me diz que também já foi assim
Como se um dia meu coração fosse congelar também.

Pois sou feita de carne, sem pretensões divinas
Me alimento das alucinações do meu dia a dia
E tenho um juramento a seguir:
Cada amor partido no chão que eu deixar
Me servirá para dizer o quanto vivi.

Vou colecionar as lembranças com cuidado
Tocá-las quando a saudade vier me visitar
Levarei teu sorriso de olhos bem fechados

Mais uma dor para me mostrar o quanto preciso melhorar...

O fim é o meu recomeço.

10/01/2017