sexta-feira, 7 de novembro de 2014

freada

a vida não nos quis
nos quis a solidão
agora, eu sou essas duas mãos vazias.

Permaneço sentada
minha almofada é a agonia
vez ou outra, escuto meu coração
ele bate acelerado,
mas está imerso em lentidão

arritmia!arrítmica!apática!

eu te vejo, não há mais fotografias
deletei,
também não há memórias.
quando não aconteceu uma história
eu sei. eu sei. eu sei?

Mas no momento que pisco meus olhos
e meus cílios se encontram e se beijam
eu vejo aquele sorriso..
aquele, sabe, nunca antes visto!?

eu convenci a pedra que ela podia andar
menti pro passarinho que ele era livre
até argumentei com o tempo, construí uma amizade
na verdade, não pedi teu esquecimento
ele, meu amigo, prometeu deixar as horas menos tristes
tudo é falho, até os deuses falham,
mas o teu não é soberano.

eu escuto a música: meu amor..
meu..amor..amor? não meu.
aí, essas canções de adeus
são tão pequenas quando sequer existiu um "olá".

Eu não sei, acho que assinei um contrato para ser fiscalizada
cada vez que algo de ti me encontra
eu, antifa, antipo, antisis, aciono a brigada,
grito desesperada, bem punitivista:
- pega, pega, pega essa ladra. socorro, polícia!
mas quando vou formalizar minha denúncia
não há nada.
eu, quase advogada, assumo meu despreparo
(antecipado)
e preencho o formulário com um "quero representar, sem mais"
contestam, mais do quê?
digo: ora, sem mais do mesmo, do de sempre
Quero exercer meu direito de...de...acabar com esse crime (amor) contínuo e permanente.
onde eu sou a vítima e a vilâ
(risada)
Quero mesmo é esquecer que eu também sou o promotor.
o provedor da minha dor, aquele que aponta o dedo
e o enfia na ferida. pouco se importando com o passado ou a inocência
eu (enquanto autora, enquanto ré) desejo a pena de morte.
morte a esse amor.

não existe irmandade num coração estraçalhado
- toda a verdade é um desejo de fugir -
quando vive-se num mundo onde sim significa não,
e o não deveria significar sempre... NÃO!.
cadê meu direito à saúde, Estado?
meu remédio é uma passagem só de ida para outro estado
onde não exista esse Estado.
estou doente, sofro do mal da sociedade do mau.
que ignora, inverte, mente
aqui, a pessoa sã é aquela que enloqueceu de vez
porque não é possível ser são:
quem permanece humano caminha sozinho
enquanto os desumanizados estão sempre acompanhados.

pausa.
que poema doloroso.
tudo isso o faz legítimo
qualquer poesia fútil é inútil
Porque importaria aos que tem fome
a minha tristeza advinda da tua rejeição?
(ou covardia?)
mesmo que eu dissesse que ao teu lado
eu teria mais forças ainda,..
a fome corrói estômagos
e eu, cá estou, falando em nome dos privilegiados,
reclamando todo o teu estrago
chorando por amor.

Que ironia.

Desmaiei de egoismo.

Acabo de retomar a consciência,
Sabe? Lembrei que já te esqueci
afinal, "tudo passa, realmente passa"
típica frase de quem crê na meritocracia,
de quem respira a burguesia
Frase que espalha caridade, a irmã da gratidão, que incentiva, consola
(e escraviza)
Afinal, todo mundo pode, basta esforço e uma quantidade alta de submissão.
Os protagonistas do massacre depois estendem a mão.

A verdade? Dei atenção a uma pessoa contaminada, contagiada,
que me chama louca assim:
- Cuidado, tenho medo dela, ela é ridícula e pirada.
Me quis enquanto o espelho renega.
Acredita? Me escreveu até uma carta de amor  piegas.
Eu devolvi, claro, mas expus também, dei até risada. E depois, virei a cara. Eu não, ora.
Justo eu? Eu amedrontada, eu que vivo aprisionada, padronizada e conformada. Porquê, meu senhor, meu deus, meu pai? A vida aprontou comigo, isso sim.

E eu podia estar dormindo. Fim.




























quarta-feira, 24 de setembro de 2014

o porco

nasci ao lado de um porco selvagem
em meu primeiro suspiro, o vi indomável
na infância, o porco era o impossível
e nos momentos de perigo, ele era meu protetor.

eu, com muita calma e admiração, descobri
que em seu lombo poderia enfrentar o mundo
quando a vida parecia tranquila, andávamos lado a lado
todavia quando o céu escurecia
era montada nele que eu ia

nosso companheirismo era tanto
que eu era ele e ele era eu.
e juntos, as criaturas do mal fugiam
e as que nos enfrentavam,
eram derrotadas, embora umas achassem que não
a grande maioria abandonava a batalha assim que nele eu subia.

que bicho leal e forte
é uma conquista ser assim

não é qualquer um que sobe em seu lombo

antes de enfrentar a sujeira, tive que enfrentá-lo
e só é possível fazer isso quando se tem muita coragem
quando se tem verdade no peito e se consegue ver para além do espelho

ainda que me digam que montá-lo não é a melhor solução
eu tenho convicção que em cima dele, mesmo que baleada
mesmo que machucada, posso ser eu e posso ser aquela 
que tantos gostariam de ser

com o passar dos anos, eu envelheci e o porco também
agora, precisamos selecionar nossas batalhas
estamos mais velhos, mais fracos
mesmo assim, quando a coisa aperta, ele não me abandona:
vem rápido da natureza, com seus dentes gigantes
e me diz com seus olhos de animal incompreendido
que não estou só e que é preciso lutar.

Então, eu monto no porco e fico invencível.




domingo, 29 de junho de 2014

Plutão





É como se a esperança fosse raiz forte:
os olhos doem, lágrimas caem, mas você enche a boca
Você precisa...

Eu sei bem que toda a revolução tem dor

E Plutão não é bom o suficiente para ser planeta
ou apenas é diferente?
Ele ainda pode ser um meteoro ou uma estrela.

A luta é feita de ausência
de mãos que nunca tocaram seu rosto
de lábios sujos de vinho
que nunca sentiram seu gosto

e de dor.

alguém em mutação
que se reflete em todos os oprimidos
mas não se vê no espelho

são mãos suadas que não seguraram seus seios
mas são fortes
e apontam uma arma contra o sossego

aquele que poderia existir se você estivesse aqui

Meu coração revolucionário
é um tapete solitário, numa sala vazia
que não sentiu seus pés

A fogueira está acesa, veja, mas nada esquenta

Toda a revolução é fria

Quando o amor é uma batalha perdida
e o tempo nos trai
A revolução é poesia

Eu terei uma laranjeira
mas meu café da manhã será sozinha

você foi expulsa do sistema solar

A gravidade sempre vence

E só revolucionam aqueles que sobrevivem a queda.

Toda a revolução é feita de pedaços

São sonhadores com olhos de tristeza
que você não quis conversar, que você não entendeu.
Toda a revolução começa com um adeus.
Eu me despeço, mesmo sem querer
de quem não posso mais ser
e você sorri porque ainda pode.
Vocês ainda pode ser feliz e viver
fazer as coisas que a minha consciência não deixa

Você um dia me disse que a coragem era minha qualidade
Me deseje medo, meu bem

Porque toda a revolução é selvagem.

Na verdade, isso tudo é uma grande loucura
Um equívoco, sim, mas real
E quem disse que eu soube lidar?

A morte não é nada para quem já está enterrada.
E a revolução é um alívio
é aquela roupa apertada que cabe num desconhecido.

A revolução é um beija flor
E eu sou o hibisco que você não quis.




domingo, 9 de março de 2014

Amanhece o dia: Bom dia, sol!

Como vai meu amor de plástico?
Estanho te confessar, mas eu sinto saudade de quando ainda podia pensar te amar e só sentia a dor ilusória do teu não. Hoje as coisas são embaraçadas, tão confusas que a cada momento que vens ao meu pensamento, desejo apagar de mim qualquer coisa que te remeta. Toda essa situaçpão me fortaleceu de uma forma ruim, sabia? Tenho um cimento no peito. Eu, completamente emocional, desaprendi a chorar. Ouvi dizer que estavas muito triste também, a palavra usada era depressão. Me disseram como se eu fosse a culpada por um momento ruim da tua vida. Mas eu aprendi não te culpando por nada que também não deves me culpar. Uma faca ficou entre a gente e ambas foram dilaceradas em alguma parte do corpo. Tomei tanta facada, xará, que virei uma pedra de titânio.Tua dor te fez mudar de lado. Ou assumir um lado que renegavas. Tudo bem, meu bem, está tudo bem agora. Cada uma lida como pode com as coisas da vida. Todavia, inevitavelmente, teremos que lidar mesmo crendo não ser justo ou correto. Não uma com a outra, todo sentimento era uma pedra de gelo que derreteu totalmente. Já passou, pois tudo passa, realmente passa. O problema é lidar com o que fica. Melhor dizendo, com o que não fica, com o vazio que vem depois, depois de um onda gigante– um tsunami – vem uma calmaria e o mar fica tão imenso que parece nos engolir. Eu, submersa, abro meus olhos para um novo caminho, sozinha. Vejo os filmes, é tão raro uma história terminar na pior! Irônia, como tudo nesse roteiro, é que a eu sempre soube que a regra comprova a exceção. O que eu percebo mais claro do que nunca é que eu sou a exceção. Eu, que não acredito e desprezo a meritocracia, quis tanto alguém que tentei ser merecedora e depois percebi que era tu que não mercias. É complicado, desilusão dupla: entender que nunca amei e perceber que tanto me enganei.
Percebo nesse instante, as 5:38 da manhã, que eu sinto falta mesmo é do amor que eu pensava sentir e de todas as loucuras que eu estava disposta a fazer. Com um sorriso triste no rosto, constato que nunca mais vou me permitir viver algo assim. Esse sorriso é puro sarcásmo, nunca quis abrir mão do meu exagero, mesmo ele me empurrando sempre pra um abismo. Eu gostava da minha capacidade de pular de braços bem abertos. Quando fazia isso, bom, meu riso era verdadeiro. Hoje, assim como tu, sou uma caretona! Chegam, enconstam em mim, entram e eu, de maneira rápida, já trato de expulsar. Não quero ninguém, absolutamente ninguém, comigo. Veja bem, que – as vezes – é inevitável transparecer a minha náusea em ter que cruzar por ti ainda. As vezes, na montanha russa dessa baixaria, eu vômito por tudo. É que eu nunca entendi porque exatamente nosso carrinho entrou no túnel do terror. Não sentir mais o que eu sentia não me fez abandonar tudo, eu sigo o meu destino. Vejo novas paisagens, estou feliz, não estás mais ao meu "lado", mas volta e meia apareces na minha estrada. Meu falso amor, meu amor de plástico. Quero mesmo é chegar no ponto certo do tempo, no teu total esquecimento, sem te ver nunca mais. Os mortos precisam descansar, eu não mereço ser assombrada e nem tu mereces ser chamada assim. Mas isso também vai passar, pois – afinal – tudo passa e passa mesmo, irmã. Estamos na última fase, assim espero, do pleno esquecimento. Assim sendo, amanhã nem lembraremos dessa tormenta que vivemos. Claro, cada uma do seu jeito e no seu mundo. 

Somos imiscíveis!


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Rabiscos encontrados

Mudem o mundo. Comecem por dentro. Há tantos corações tristes. Não é fraqueza pular do barco: fraco é aquele que navega sem querer. A única lástima é o afogamento, mas respeitem quem opta por ele. Ela não é daqui. Os que dizem sentir amor por ela, devem entender - sem dor - que ela não é daqui e precisa ir para casa. Ela sente-se mutilada diariamente. Ela é uma índia, não quer ser cristã. Ela é uma negra, não quer ser escrava. Tem um peito só e nele cabe tanta dor que se a dor fosse visível, teria o formato de uma boca e engoliria a todos. Tem na garganta um grito que atravessa a via láctea. É um elefante de zoológico, um urso domesticado. Um peixe de aquário, mas com memórias. Deixem ela ir embora. São muitos anos sem descanso, colecionando batalhas sem vitórias. Todos merecem descansar, ela precisa fechar seus olhos. Sei que pouco acrescentou e em pouco tempo, seus olhos evaporarão até nas lembranças. Todavia deixou escritos, deixou sua pele em outro corpo que não merece a sua dor. Esse corpo é daqui e será feliz. Ajudem, não falem bobagens, não errem com as crianças. Somos nós no passado, não despejem traumas em quem acabou de chegar a este mundo. Ninguém tem culpa, ninguém deve sentir-se assim. Ela sempre soube que teria vida curta e aproveitou o que pode, como pode aproveitar e viver. Uma aberração precisa descansar.

sábado, 11 de janeiro de 2014

P.

eu disse a ela que era preciso deixar para tras tudo que nos torna pesado. que e como selecionar as melhores roupas, o que verdadeiramente necessitamos para uma viagem  longa e sozinha. nao e possivel carregar tudo que queremos e e o melhor momento para deixar em alugum quarto de hotel que jamais voltaremos, aquela carga desnecessaria que nos incomodava. ela entendeu!
seu maior erro foi ignorar os sinais. por isso, hoje, escuta bem o silencio e ingora pensamentos tolos que podem desvia-la do caminho que quer seguir. essa e a historia de uma mulher que estava crescendo, que - em pouco tempo - viu o mundo totalmente diferente. creio que seja a vida adulta chegando, arrobando sua porta como a policia faz na favela. nao adianta nao querermos, nao adianta resistirmos. contra o tempo, bem, contra esse poderoso nao podemos fazer nada a nao ser entende-lo para nao sermos tao punidos por sua arbitrariedade. mas essa e a historia de uma mulher daltonica, que enchergava verde de esperanca no azul de um ceu poluido. ela sonhou tanto que esqueceu-se de viver a realidade. a verdade era uma grande traicao, uma ma escolha da sua parte. porque diabos ela insistia tanto, ninguem entendia, nem ela. todos na sua volta diziam que nao valia a pena, que eram maos sem dedos, maos repletas de ouro e uma boca mentirosa que bostejava futilidade. todavia ela insistia, nao sabe explicar. tinha em seus bracos a forca para mudar quem quer que fosse. nao percebeu, a mulher, que para mudar o mundo devia apontar seus olhos para outro destino; para dentro. creio que ela nao acreditava em casos perdidos, mas, sim, a casos irrecuperaveis. plantou amor num terreno infertil, feio. era uma terra de ninguem, habitada por ricos, por carros, pelo puxa-saco que comia, bem escondida, sua subordinada quando a noite caia.
e ela, bom, ela...ela era so uma sonhadora.
em meio de noites nao dormidas, ela disse que desperta com o estomago comprimido, uma nausea a faz vomitar dor pela Colombia, mas quando a salsa toca ela se esquece. na verdade, ela esta forte! repete, quando seus pensamentos se descontrolam, ela repete: no piense mas! e funciona, ela me disse! hoje me contou tambem que escreveu seu ultimo texto sobre uma historia que parecia nao ter fim, que entende tudo, que, depois daquele dia, memorias comecaram a retornar como caem as moedas nos cassinos de merda dos estados desunidos. baixou a cabeca, nao por vergonha, e me contou que sentia fisgadas de raiva no peito pesado de tanto amor inutilizado. disse-me que nao bastava ser um homem, nem assim conseguiria. relatou-me que somente se fosse um porco imundo, arrogante e sujo, teria o amor de alguem que sequer conheceu, que hoje percebe bem o cheiro apodrecido de carne morta quando relembra os tais olhos que tanto admirou. mas ela nao quer, na verdade, falar. ela quer esquecer. eu a disse: olvida-te! ela sorri e, nesse instante, levanta as maos para o arco iris que aparece no Monserrate, em Bogota,  e grita, bem alto, que entrega tudo, nao porque perdeu, mas porque nao quer mais. entrega, jamais de joelhos, ao rei da saxonia, junto com uma grande cuspida, uma pedra falsa. Diz, em tom alto, toma, leva teu trofeuzinho, mas o esconda bem, a rainha nao pode ve-la, toma essa coisa, eu nao amo coisas, eu amo pessoas, eu nao amo o poder, sabe porque, Augusto? eu sei dizer adeus! Toma, leva, faz um chaveiro dessa mulher pequena e desgracada, porque, aqui ( aponta para sua cabeca e coracao), rei dos bostas, nem se ela um dia quiser, ela tera entrada.

assim, acabou um grande capitulo de uma vida que recem se inicia. ela esta leve, eu sinto. voltou a andar erguida, esta bonita! em breve, me parece, eu terei novas narrativas de paixao ardente dessa menina, agora mulher, de corpo quente e alma intensa, que ama forte e ama ate quem nao e gente de tanto amor que sente.