Eu a olho todos os dias
Eu a sinto!
Se a noite foi cruel
ela balança a cabeça pra frente e pra trás
num ritmo que me culpa
cada movimento seu me conta um segredo sombrio
ela fica ali
parece que nunca dorme
parece que nunca come
quando a noite não foi tão cruel como sempre é
ela me sorri, me abana e me joga com os seus olhos verdes
pitadas pequenas de esperança
certa vez, um louco convenceu a humanidade
de que a loucura se encontra mais nos que julgam não a ter
certa vez, um louco nos fez segui-lo
e manchou seu nome na história pra sempre
me desculpa, era um louco
assim como ela, como eu
e como todos que não usam esse crachá de bom cidadão
como todos que não vão se confessar no domingo
e na segunda, pisam as dores alheias da rua
minha esquizofrenia me faz escrever
a desse louco, o fazia ouvir vozes, caminhar sobre a água
como eu acredito na poesia, a vejo, a sinto, a toco
como ele acreditava no que sentia
de fato, era santo porque afinal
se, não somos o que cremos, o que somos?
Ela, quem é ela?Será que nasceu no chão?
No que acredita? Pelo que vive? Será que sonha?
Se, crê em deus, que deus a ajuda?
Quais seus pedidos á ele?
Uma noite de paz sem violência no seu corpo cansado
Um abraço, um carinho, um pedaço de pão
Um sorriso, minha mão?
Sinto infinita tristeza de ser eu e ela ser ela
E aquele louco ter virado esse símbolo doentio
Infinita tristeza por viver entre esses normais
Há podridão nas mãos de todos
E, nas minhas mãos, há loucura indignação
Não pode ser assim
E ninguém entendeu o seu recado
Porque entenderiam o meu?
Que fé é essa que condena aquela mulher a viver no inferno?
Precisa morrer para ir ao paraíso?
E eu me encontro a onde?
Senão no extremo da lucidez e da loucura humana
Hei de ser louca, ela há de ser sã
Ele há de voltar!
Vocês hão de entender!
Thais Dornelles