quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Rabiscos encontrados

Mudem o mundo. Comecem por dentro. Há tantos corações tristes. Não é fraqueza pular do barco: fraco é aquele que navega sem querer. A única lástima é o afogamento, mas respeitem quem opta por ele. Ela não é daqui. Os que dizem sentir amor por ela, devem entender - sem dor - que ela não é daqui e precisa ir para casa. Ela sente-se mutilada diariamente. Ela é uma índia, não quer ser cristã. Ela é uma negra, não quer ser escrava. Tem um peito só e nele cabe tanta dor que se a dor fosse visível, teria o formato de uma boca e engoliria a todos. Tem na garganta um grito que atravessa a via láctea. É um elefante de zoológico, um urso domesticado. Um peixe de aquário, mas com memórias. Deixem ela ir embora. São muitos anos sem descanso, colecionando batalhas sem vitórias. Todos merecem descansar, ela precisa fechar seus olhos. Sei que pouco acrescentou e em pouco tempo, seus olhos evaporarão até nas lembranças. Todavia deixou escritos, deixou sua pele em outro corpo que não merece a sua dor. Esse corpo é daqui e será feliz. Ajudem, não falem bobagens, não errem com as crianças. Somos nós no passado, não despejem traumas em quem acabou de chegar a este mundo. Ninguém tem culpa, ninguém deve sentir-se assim. Ela sempre soube que teria vida curta e aproveitou o que pode, como pode aproveitar e viver. Uma aberração precisa descansar.

sábado, 11 de janeiro de 2014

P.

eu disse a ela que era preciso deixar para tras tudo que nos torna pesado. que e como selecionar as melhores roupas, o que verdadeiramente necessitamos para uma viagem  longa e sozinha. nao e possivel carregar tudo que queremos e e o melhor momento para deixar em alugum quarto de hotel que jamais voltaremos, aquela carga desnecessaria que nos incomodava. ela entendeu!
seu maior erro foi ignorar os sinais. por isso, hoje, escuta bem o silencio e ingora pensamentos tolos que podem desvia-la do caminho que quer seguir. essa e a historia de uma mulher que estava crescendo, que - em pouco tempo - viu o mundo totalmente diferente. creio que seja a vida adulta chegando, arrobando sua porta como a policia faz na favela. nao adianta nao querermos, nao adianta resistirmos. contra o tempo, bem, contra esse poderoso nao podemos fazer nada a nao ser entende-lo para nao sermos tao punidos por sua arbitrariedade. mas essa e a historia de uma mulher daltonica, que enchergava verde de esperanca no azul de um ceu poluido. ela sonhou tanto que esqueceu-se de viver a realidade. a verdade era uma grande traicao, uma ma escolha da sua parte. porque diabos ela insistia tanto, ninguem entendia, nem ela. todos na sua volta diziam que nao valia a pena, que eram maos sem dedos, maos repletas de ouro e uma boca mentirosa que bostejava futilidade. todavia ela insistia, nao sabe explicar. tinha em seus bracos a forca para mudar quem quer que fosse. nao percebeu, a mulher, que para mudar o mundo devia apontar seus olhos para outro destino; para dentro. creio que ela nao acreditava em casos perdidos, mas, sim, a casos irrecuperaveis. plantou amor num terreno infertil, feio. era uma terra de ninguem, habitada por ricos, por carros, pelo puxa-saco que comia, bem escondida, sua subordinada quando a noite caia.
e ela, bom, ela...ela era so uma sonhadora.
em meio de noites nao dormidas, ela disse que desperta com o estomago comprimido, uma nausea a faz vomitar dor pela Colombia, mas quando a salsa toca ela se esquece. na verdade, ela esta forte! repete, quando seus pensamentos se descontrolam, ela repete: no piense mas! e funciona, ela me disse! hoje me contou tambem que escreveu seu ultimo texto sobre uma historia que parecia nao ter fim, que entende tudo, que, depois daquele dia, memorias comecaram a retornar como caem as moedas nos cassinos de merda dos estados desunidos. baixou a cabeca, nao por vergonha, e me contou que sentia fisgadas de raiva no peito pesado de tanto amor inutilizado. disse-me que nao bastava ser um homem, nem assim conseguiria. relatou-me que somente se fosse um porco imundo, arrogante e sujo, teria o amor de alguem que sequer conheceu, que hoje percebe bem o cheiro apodrecido de carne morta quando relembra os tais olhos que tanto admirou. mas ela nao quer, na verdade, falar. ela quer esquecer. eu a disse: olvida-te! ela sorri e, nesse instante, levanta as maos para o arco iris que aparece no Monserrate, em Bogota,  e grita, bem alto, que entrega tudo, nao porque perdeu, mas porque nao quer mais. entrega, jamais de joelhos, ao rei da saxonia, junto com uma grande cuspida, uma pedra falsa. Diz, em tom alto, toma, leva teu trofeuzinho, mas o esconda bem, a rainha nao pode ve-la, toma essa coisa, eu nao amo coisas, eu amo pessoas, eu nao amo o poder, sabe porque, Augusto? eu sei dizer adeus! Toma, leva, faz um chaveiro dessa mulher pequena e desgracada, porque, aqui ( aponta para sua cabeca e coracao), rei dos bostas, nem se ela um dia quiser, ela tera entrada.

assim, acabou um grande capitulo de uma vida que recem se inicia. ela esta leve, eu sinto. voltou a andar erguida, esta bonita! em breve, me parece, eu terei novas narrativas de paixao ardente dessa menina, agora mulher, de corpo quente e alma intensa, que ama forte e ama ate quem nao e gente de tanto amor que sente.