É no fim de tarde
Que a saudade se estende
Era quando ela mais estava presente
A dor arde,
lateja, cega, impede de ir em frente.
É preciso esquecer
É só a ausência da carne que mata
O amor morto permanecerá por anos
Feito um corpo embaixo da terra
Um pedaço meu se decompõe diariamente
Aguentar esse cheiro de podre
Enlouquece!
Até que desaparece para sempre.
Chorar, gritar, tocar meu corpo
Não vai curar, não vai amenizar
Então silencio!
Olho pela janela
Alguns planejam algo
(Uns respiram apenas
Estes, já se cansaram
De atirar ou ser o alvo.)
Ver os planos afogados
Esquecidos no fundo
De um oceano escuro e gelado
Tudo dói, é claro que dói.
O mundo já anda tão frio
Cada amor perdido em vão
Finda um sorriso
Pinta de preto um pedacinho da natureza
Torna as folhas de uma árvore secas.
Um anúncio disso deveria ilustrar a capa de um jornal
Como a morte de uma criança
É menos amor na terra
É tão triste!
Afinal, é prematuro!
É o bloquear de um futuro
Que poderia ser doce
(Ou não!)
Vai sangrar e muito
Feito uma bala que cruza o peito
E segue.
Fica um buraco, oco, insubstituível
Que jamais se reconstituirá
Quantos tiros eu já levei, deus?
Meu coração se assemelha
Aos muros de fuzilamentos.
A uma peneira.
Quantas balas eu fui também?
Assemelho-te, hoje, a um assassino cruel
Um abusador, um prepotente
Um infeliz, descontente
Veio, estuprou meu corpo
Atirou no meu coração e partiu.
E eu, que estava a recuperar-me de uma bala passada
Gostei, gostei tanto, porque senti
Senti um cheiro, senti um gosto novo
E sentir, hoje em dia, é tão difícil.
És o melhor e o pior da vida
O salvador e o réu
O teu papel: matar a ânsia do tédio
Que corria pelas minhas veias
E, o teu adeus é avisar-me, com a tua partida,
Que eu não posso fugir da minha sina.
A sina escura de ser humana
A sina da solidão!
Thais Dornelles