quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Estranhos

Duas vidas se enroscam
Formam outra vida
Criam expectativas
Esbanjam esperanças
Por anos, planejam
Juram amor e lealdade

Os laços vão desenrolando
Um dos dois, parti para não voltar
O outro, permanece no mesmo lugar
Partido, despedaçado...
Intocado, não se enfrenta
Tenta esquecer
Reza, confia na ilusão
Não entende a vida
Grita, chora alto
Aperta a almofada contra o rosto
Para não transparecer o desespero
Escolhe o caminho mais difícil
Depois do amor, vem o ódio

Então os olhos se reencontram
Firmes, impiedosos
Carregados de mágoas e remorsos

O olhar mudou, tudo mudou
E o amor parece nunca ter existido
Nunca existiu!

Estranhos
Dois desconhecidos
Carregados de bagagens de uma vida
Que não existiu!
Não é possível dizer uma palavra de ternura
como desejar um abraço de alguém que nunca vimos?
Estranhos, meros estranhos
O que vocês viraram?
Como deixaram chegar a esse ponto?
Quem dos dois desaprendeu a falar?
Amor não amável, sem cartas, sem noites
E se não tivesse uma prova, esse desenho
Que expressa os traços dos dois
Se não houvesse esses olhos que são a junção dos nossos olhos
Poderia ter sido algo irreal, universo paralelo
Mas existiu!
Está aqui!
E o som do piano
Arranca lágrimas que não sabem por que estão caindo
Só molham o rosto...
Agora alguém decide por nós
Alguém levanta uma bandeira branca
E sugere velinhas e balões
E diz do amor que, se ele não dura , ensina
Mas está aqui!
Tem os meus cabelos e o teu jeito de andar
Como se alcança algo mais eterno do que isso?
Eu não me importo mais
Agora o que vale é machucar!
O que vale é fazer sofrer, cobrar a dívida
Quem deve pagar pelo fim?
E essa cobrança é necessária pra ti?
Me dê um microfone, uma estação de rádio
Eu te peço perdão, então!
Perdão por tudo que fiz e pelo que não fiz também!

Mãos que não se alcançam
Nem em mil vidas, tu me tocarias de novo!
É com dor que afirmo que nunca me tocaste...
Não te reconheço, não te amo
Nunca amei!
Mas não te odeio
E consigo te desejar o melhor
Assim como desejo ao bêbado
Que troca os pés e vagueia cantarolando
Pela minha rua!
Nunca fui tua
Teu coração cheio de vidros
Nunca me convenceu
O soco que dei no teu peito
Foi um grito de liberdade
De quem nunca foi feliz ao teu lado!
Mas ela é tão linda
E tem tanto de ti
É nela que vejo teu lado bom
Ela dorme sobre os braços, debruço
E coça a barriga como tu fazias
É braba, franze a sobrancelha e baixa a cabeça
Mas olha com carinho
Não gosta de pisar na areia e ama chocolate
O que viraste?
Eu me pergunto sempre...
Pra onde foi aquele rapaz
Dono dos meus sonhos
Que me fez crescer, pra além de mim?
Pra onde foram as lembranças boas
Das tardes chuvosas
Repletas de suor e das pernas confundidas
Aquelas juras todas
Aquele olhar que parecia me proteger de tudo
Não existiu?!
Foi embora das minhas memórias
E nada ficou de nós, senão nós mesmos
Nosso sangue misturado
Essa vida que comprova o que vivemos
Por isso, eu não nego, querido!
Eu me desconheço sem ti...
Não seria eu, senão fosse tu
Não seria assim, nada seria dessa forma
Se teu corpo não tivesse ficado sob o meu
Estranho, insuportável
Te amei tanto, fui tua
E tu cospe ódio pelos olhos, fala absurdos
Quer me ver destruída
E tudo que eu te desejo é o melhor
Estranho que ajudou a escrever a minha história
Porque a nossa vida tomou esse rumo triste?
Eu plantei ortigas, mas também tulipas
Porque me negar assim?
Se a minha derrota é a intenção da tua batalha
Já venceste a guerra!
Eu sei por que as lágrimas caem
É o meu fracasso derramado
Não tem explicação, não tem perdão
Ter te ouvido falar, ter desejado a tua boca
E não ter te conhecido.
Será que nunca prestei atenção em ti?
Dizem que o amor nos deixa cego
As vezes, não vemos para não sofrer
Eu poderia ter passado a vida ao teu lado
Se eu fosse outra mulher
Vagabunda, louca, traiçoeira
Tu também estavas cego?
Como pode ter prometido amor a alguém assim?
É, sabemos a resposta!
Foi o tempo que errou!
Eu precisava ver o mundo
E tu precisavas de mim
Eu vestia vermelho e tu azul
Eu escutava MPB e tu Metallica
Eu queria explodir o banco
E tu, fazer poupança
Eu não podia me adaptar
E tu querias comida boa, as roupas limpas
Ninguém cedeu e o amor partiu desesperado
Como ele permaneceria no meio do fogo cruzado?
Virei ás costas e caminhei pra bem longe de ti
E desde então, nenhum outro homem me tocou!
Meu protesto, talvez.
Se não fosse tu, não seria nenhum outro.
Mas nada existiu!
Foi namoro de adolescência, né?
Sem nenhuma importância
A não ser a maior de todas
Eu entendo o porquê dela ser tão especial e maravilhosa
Ela é a união do fogo com o ar
Por onde passa, ilumina
Ela é o teu melhor com o meu melhor
A única sabedoria que tivemos
A Sabedoria que me faz te ver com amor ainda!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Encontro

O amor dela, a dor dela em enterrá-lo
Eu pude vê-la, pude ver os olhos molhados
Eu ouvi o adeus que ninguém escutou
Mal sabem todos que seu coração está debaixo da terra!

Inácio, fruto da paixão febril, virou sangue
Ninguém o desejou até uma esperança de vida brotar.
Depois, Inácio dos olhos verdes, cabelos castanhos
Explorando o mundo e arrancando suspiros...
Mas ele morreu antes de viver!
Não era hora de Inácio chegar
Ele deve ser profeta
Pensou que não queria nascer
E se desfez entre as pernas dela.

No outro canto da cidade,
Alguém não conseguia chorar
Por alguém que morreu sem morrer
E partiu sem amar!


Enquanto a moça solitária
Lutava bravamente para proteger seu corpo
Na calçada da Lavras
Foi pega desprevenida
Imobilizada por mãos desconhecidas
Fechou os olhos e entregou-se a desgraça.
Pensou que acabaria logo...
Mas o carrasco nunca partiria
Deixou nela seus olhos pretos
Que virariam outros olhos, sendo os mesmos!

Impar

Dos amores que doem

De todos eles

Aquele que não toca

Que não deixa saber

Que parte

Nem provoca

Nem ofende

Não entende

Não bagunça

Aquele que nasce

Mas não brota

Feito flor mal cuidada

Que seca antes de florir

De todos os amores...

Ah, como falar de amor agora?

Eu, sozinha

Impar

Esperando um milagre

Quem sabe?

Olhando a cidade

Esperando que o amor dobre a esquina

Para que eu não possa mais vê-lo

Dizendo adeus ao sentimento

Que surgiu, sabe-se de onde

Não foi aproveitado

Não foi utilizado

Não foi necessário

Amor posto no lixo

Pra ser queimado

Nem reciclado, nem guardado

Amor rejeitado

De todos os amores

O que mais dói é esse

Que lateja sem sofrer

Que se deve esquecer

Sem esquecer!

Intransferível

Inútil

Amor nomeado

Que virou uma carta que não chega

Que se extravia

E ninguém sente falta!