sábado, 22 de junho de 2013

quando o peito fica tão vazio


eu penso em saudade
eu penso em amor

tudo é completo, sendo pela metade

tudo é desamor

as canções falam em grego
dá vontade de chorar

eu queria até sentir medo
mas minha alma não sabe se amedrontar

eu escuto sinos
de repente, bombas explodem os sonhos

são pés que marcham sozinhos
no meio de uma multidão

quando vier a escuridão
os poetas e os cegos abrirão o caminho

a força da luta há de vir do coração
há que se ter, ainda, algo no peito

daí, o desfeito após o feito
anulará meu defeito

minha namorada é a solidão

minha arma são meus olhos
que disparam dor e cansaço

meu fracasso é a minha vitória
do meu lado, minha sombra me abraça

e eu não te quero aqui

nunca te quis aqui

...

nausea

(pausa pra pensar)

rompeu a corda, desfez o nó
sigo mesmo só e daí?

NÃO TE QUERO AQUI!

reflete, consegues?

não me olha assim!
(em tom alto, um soco na parede)

NÃO OLHA PRA MIM!

de novo, a náusea

vomito meu sangue
vermelho de paixão
tem gosto de vinho
mas gosto apodrecido

morre, eu exclamo
arde o (des)sentimento

deus, vem cá!

(anestesiada)

(náusea)

o que eu fiz de mim?

(gargalhada)

nas minhas mãos há força

veja o que eu virei!
não veja

NÃO OLHA PRA MIM...





quarta-feira, 12 de junho de 2013

não luto mais

é provável que um dia minhas mãos cansem de escrever tristezas. ontem perambulei as ruas, sozinha, cena decadente. eu ando bem cansada dessa amargura instalada em mim. as coisas bonitas que meus olhos avistam, são pequenos momentos que vão embora. minha cama está vazia há bastante tempo e não por falta de opção, é a minha escolha. não me entrego mais pra ninguém, não quero e não posso. não posso porque seria um engano e temo o eco, respeito o eco. não quero emanar ao universo a minha dor, pois desejo que ninguém a sinta, além de mim. e quando ela partir, que ela parta pra sempre e não retorne nunca mais ao meu coração. existe uma doença fixada no meu peito, uns chamam de amor, outros dizem não entender. é um buraco, oco e vazio. e, mesmo assim, ainda sinto. já secou, já instacou a hemorragia. não morri, não suicidei, muito menos matei. cuidei, zelei meu coração para que ele não apodrecesse, todavia não dependeu só de mim. errei muito nos últimos anos, maltratei almas, falei em amor sem sentí-lo verdadeiramente. era fuga, por certo. eu queria, desesperadamente, virar uma página que não se vira. tenho saudade da minha vida antes disso tudo. como era tranquilo! minha referência de amor, era sadia. eu tinha um corpo real em cima do meu que agora esquenta outro corpo. estou sozinha, triste, muito triste. entretanto, prefiro assim. só volto a dividir-me se, um dia ou uma noite, eu possa abraçar forte alguém, sentido vontade real disso. caso contrário, aceito a solidão. se a humanidade não me entende, tampouco a quero por perto. meus gatos me esquentam inverno adentro. são sinceros e, se voltam, é porque querem voltar e, se um dia não puderem voltar, basta - pra mim - saber que eles adorariam estar ao meu lado. bastava saber que ela queria, embora não pudesse, mas ela nunca quis, nunca pode. dei um sentimento do tamanho dos andes, tão grande que explodiu, não pude evitar. era algo que nunca tinha vivido. também não soube agir. se eu tivesse encostado, em silêncio, a teria perto e, certamente, não estaria tão triste. mas a mandei pra longe, escrevi o pra sempre numa história que nunca começou. equivocada, ansiosa, destroi, sozinha, minhas esperanças que já eram pequenas. se eu pudesse voltar ao passado, não a teria olhado, mas se isso fosse inevitável, faria tudo diferente para, pelo menos, seguí-la olhando por muito e muito tempo. parecia verdadeiro, vejo fotos de casais, é dia dos namorados (que ironia) e não vejo amor em parte alguma. eu o via nos meus atos, mesmo errados, na noite em que fiz de tudo para vê-la sorrir. guardarei meu único acerto com carinho. vou lembrar pra sempre da forma como ela me olhou, fechando os olhos... pra mim, é isso. pelo menos, hoje, nenhum sentimento ruim está comigo e sopro com o vento coisas boas à ela. vou seguir por aqui, talvez um dia passe, mas se não acontecer, ninguém mais saberá. ela só saberá se quiser saber, se vier até aqui e ler. e, se ela vier, deixo registrado que não tenho vergonha das minhas falhas e nem da minha caligrafia feia. tudo que eu senti, eu falei, eu escrevi...foi pra ela que dediquei o maior sentimento, que não desejo nomear, que já vivi. estou em paz, pois a tristeza machuca, mas minha consciência está tranquila. aconteceu uma revolução em mim e, acredito, teria acontecido de qualquer forma: mesmo que eu sufocasse, nada permanece escondido por muito tempo. criei a bomba atômica, não há mais passarinhos e nem árvore para serem derrubadas, o rio está impróprio para banho, ela não veio, nunca virá e, temo, ninguém mais virá. quem desejaria viver em um deserto?



terça-feira, 4 de junho de 2013

golondrina libre

bebi meu violão
bati o cigarro no cinzeiro
parei num puteiro
afrontei a solidão
tranquei na masmorra teus olhos sujos

na tentativa infeliz de estancar a hemorragia

mas meu coração apodrecia

cada beijo que minha boca lançava
despejava na minha face uma lágrima

todas essas companhias...

eu suspiro dor e agonia

meus sonhos se desmacham no chão da cozinha
dessa noite fria...

não choro mais por ti
a roda viva calou minhas reclamações
pintou um outdoor na frente da minha janela
com letras de sangue e fotografia triste

foi embora a juventude
a doçura, a fé

piso descalço no cimento

congelo, pouco a pouco, por dentro

mas ainda sinto
(e como sinto)

todas as dores do mundo
estão presas na minha traqueia

Exclamo: é a morte
vem com a chuva a despedida
ela parte prum universo limpo
morre velha

eu morro jovem, morro viva

pero, cariño, yo soy una golondrina

libre, libre

meu amor, que era gigante,
fortaleceu minha coragem
que hoje é do tamanho dos Andes.

nada temo,
as tais pedradas do caminho
acertam em cheio meu peito
mas, como as árvores, permaneço em pé.
abismos?
eu sou a queda livre
ventania?
eu sou a tempestade

o passado é a minha rua, mão única
te querer foi como engatar a ré

agora ando pra frente, de cabeça erguida

bebi meu violão,
brindando o fim da expectativa

ninguém mais eu quero
ninguém mais eu espero no portão

soy una golondrina
sola y libre
Nadie más va a quemarme, matarme
porque ya estoy en el cielo lejano
las crueldades del mundo ya no me alcanzan
aunque me hacen sentir y llorar
mi corazón se convirtió en el viento...
ahora mi poesía es para la lucha
mis versos escriben la fuerza que tengo en mis manos
y mis ojos son dos nubes de libertad
gritando en voz alta que estoy viva
y todavía puedo soñar
un sueño sin pasión y llena de amor
el amor de la humanidad
yo estoy libre de ti.








sábado, 1 de junho de 2013