quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Rabiscos encontrados

Mudem o mundo. Comecem por dentro. Há tantos corações tristes. Não é fraqueza pular do barco: fraco é aquele que navega sem querer. A única lástima é o afogamento, mas respeitem quem opta por ele. Ela não é daqui. Os que dizem sentir amor por ela, devem entender - sem dor - que ela não é daqui e precisa ir para casa. Ela sente-se mutilada diariamente. Ela é uma índia, não quer ser cristã. Ela é uma negra, não quer ser escrava. Tem um peito só e nele cabe tanta dor que se a dor fosse visível, teria o formato de uma boca e engoliria a todos. Tem na garganta um grito que atravessa a via láctea. É um elefante de zoológico, um urso domesticado. Um peixe de aquário, mas com memórias. Deixem ela ir embora. São muitos anos sem descanso, colecionando batalhas sem vitórias. Todos merecem descansar, ela precisa fechar seus olhos. Sei que pouco acrescentou e em pouco tempo, seus olhos evaporarão até nas lembranças. Todavia deixou escritos, deixou sua pele em outro corpo que não merece a sua dor. Esse corpo é daqui e será feliz. Ajudem, não falem bobagens, não errem com as crianças. Somos nós no passado, não despejem traumas em quem acabou de chegar a este mundo. Ninguém tem culpa, ninguém deve sentir-se assim. Ela sempre soube que teria vida curta e aproveitou o que pode, como pode aproveitar e viver. Uma aberração precisa descansar.

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