terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Não há poesia numa vida vazia
nem música que descreva o silêncio

corações estraçalhados perderam a rima
que escorreu pelo caminho
tudo acaba nas águas dos rios, ou no salgado do mar
Ingrid, Afonsina, Virginia...

mulheres, como eu, ousaram
e todas morreram sozinhas.

não há companhia na sociedade doentia
os amigos sumiram numa neblina
logo atrás das árvores, eu os vejo
são vultos que já não escutam.

a morte não precisa ser física
a fumaça não precisa ser pólvora
a bala poderia ser a amiga que eu queria
aquela que se alojaria na minha cabeça
talvez a única que não fugiria.

Não há tesão em corpos sujos de histórias
peles machadas de memórias
e nem mais palavras para bocas amaldiçoadas
que gritaram tantas blasfêmias e espalharam tanta dor

ecoam os meus insultos, ninguém está perto.

Bate o vento na sacada, árvores dançam esquisito
uma mulher olha para o nada e vê o infinito

não há nenhum abrigo em tempo de guerra
caminham, sem pernas, os sobreviventes
e descansam nos túmulos os mortos.
Nos muros, algum solitário escracha a ironia
perder é ter paz, vencer é agonia

o troféu da guerrilha, ela segura em suas mãos
tem forma espiral, a tristeza o construiu, ninguém o vê
sorri, como louca, era melhor segurar uma granada
e ser aquela que explodia, por quem se lutava.

Não há luta sem paixão.
Não há paixão depois da juventude.

Em um quarto sem lembranças
alguém encosta a cabeça, fecha os olhos e tenta sonhar ainda

a saudade é íntima
tem a ver com aquele rosto que aparecia no espelho uns anos atrás
e com aquelas palavras todas na poesia, que enfeitavam os dias.
E que se perderam na estrada e nunca mais serão ditas.

Juramentos nunca cumpridos,
mas alguém os cumprirá sem nem tê-los prometido.

Sempre há um novo colibri
e todas viramos violetas velhas.



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