domingo, 15 de novembro de 2009

O homem que tenta voar

Sem asas.


Veio um homem e lhe apedrejou

Com um estilete

O homem não era mau

Era um homem entediado

Perdido

Cego

Que ao ver o pássaro colorido

Percebeu o escuro da sua vida

Pensou que um dia poderia voar

Com as assas daquele pássaro

Pensou que um dia poderia ser bonito

Ele correu, como correu, até aproximar-se

Sorriu

E realmente sua boca era linda

O pássaro não temeu

Nunca deixaria de pousar onde quisesse

Pensou em adormecer no ombro do homem

Ingênuo, deixou-se tocar

Rapidamente, formou-se uma gaiola invisível

“o essencial é invisível aos olhos”

E o coração não vê barreiras

O homem foi feliz

Pois tinha algum motivo verdadeiro

Real, vivo

Que o fizesse sentir

O pássaro sempre acreditou

Por isso era pássaro

Por isso voava

Ficou ali

Ambos trocaram sabores

Trocaram vivências

E, de repente, como uma tormenta não prevista pelos meteorologistas

A chuva caiu

O vento assoprou o pequeno pássaro para longe

Inconformado por voltar a ser o que era

O homem lhe apontou suas mágoas

A sua pior arma

Mágoas enfraquecem!

E lhe atirou no peito a sua escuridão

Ao acordar, o pássaro já não era mais pássaro

E nem passearia mais pelos céus

Virou homem, sem assas, preso ao cotidiano

Tornou-se escuro, vazio, oco

Olhou para cima

E viu, quem lhe cortou as asas, voando

Livre.

Thais Dornelles

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