segunda-feira, 9 de novembro de 2009



É no fim de tarde

Que a saudade se estende

Era quando ela mais estava presente

A dor arde,

lateja, cega, impede de ir em frente.

É preciso esquecer

É só a ausência da carne que mata

O amor morto permanecerá por anos

Feito um corpo embaixo da terra

Um pedaço meu se decompõe diariamente

Aguentar esse cheiro de podre

Enlouquece!

Até que desaparece para sempre.

Chorar, gritar, tocar meu corpo

Não vai curar, não vai amenizar

Então silencio!

Olho pela janela

Alguns planejam algo

(Uns respiram apenas

Estes, já se cansaram

De atirar ou ser o alvo.)

Ver os planos afogados

Esquecidos no fundo

De um oceano escuro e gelado

Tudo dói, é claro que dói.

O mundo já anda tão frio

Cada amor perdido em vão

Finda um sorriso

Pinta de preto um pedacinho da natureza

Torna as folhas de uma árvore secas.

Um anúncio disso deveria ilustrar a capa de um jornal

Como a morte de uma criança

É menos amor na terra

É tão triste!

Afinal, é prematuro!

É o bloquear de um futuro

Que poderia ser doce

(Ou não!)

Vai sangrar e muito

Feito uma bala que cruza o peito

E segue.

Fica um buraco, oco, insubstituível

Que jamais se reconstituirá

Quantos tiros eu já levei, deus?

Meu coração se assemelha

Aos muros de fuzilamentos.

A uma peneira.

Quantas balas eu fui também?

Assemelho-te, hoje, a um assassino cruel

Um abusador, um prepotente

Um infeliz, descontente

Veio, estuprou meu corpo

Atirou no meu coração e partiu.

E eu, que estava a recuperar-me de uma bala passada

Gostei, gostei tanto, porque senti

Senti um cheiro, senti um gosto novo

E sentir, hoje em dia, é tão difícil.

És o melhor e o pior da vida

O salvador e o réu

O teu papel: matar a ânsia do tédio

Que corria pelas minhas veias

E, o teu adeus é avisar-me, com a tua partida,

Que eu não posso fugir da minha sina.

A sina escura de ser humana

A sina da solidão!

Thais Dornelles

Um comentário:

  1. "e sentir, hoje em dia, é tão difícil"___________gostei de ver alguém escrevendo isso

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