quarta-feira, 12 de junho de 2013

não luto mais

é provável que um dia minhas mãos cansem de escrever tristezas. ontem perambulei as ruas, sozinha, cena decadente. eu ando bem cansada dessa amargura instalada em mim. as coisas bonitas que meus olhos avistam, são pequenos momentos que vão embora. minha cama está vazia há bastante tempo e não por falta de opção, é a minha escolha. não me entrego mais pra ninguém, não quero e não posso. não posso porque seria um engano e temo o eco, respeito o eco. não quero emanar ao universo a minha dor, pois desejo que ninguém a sinta, além de mim. e quando ela partir, que ela parta pra sempre e não retorne nunca mais ao meu coração. existe uma doença fixada no meu peito, uns chamam de amor, outros dizem não entender. é um buraco, oco e vazio. e, mesmo assim, ainda sinto. já secou, já instacou a hemorragia. não morri, não suicidei, muito menos matei. cuidei, zelei meu coração para que ele não apodrecesse, todavia não dependeu só de mim. errei muito nos últimos anos, maltratei almas, falei em amor sem sentí-lo verdadeiramente. era fuga, por certo. eu queria, desesperadamente, virar uma página que não se vira. tenho saudade da minha vida antes disso tudo. como era tranquilo! minha referência de amor, era sadia. eu tinha um corpo real em cima do meu que agora esquenta outro corpo. estou sozinha, triste, muito triste. entretanto, prefiro assim. só volto a dividir-me se, um dia ou uma noite, eu possa abraçar forte alguém, sentido vontade real disso. caso contrário, aceito a solidão. se a humanidade não me entende, tampouco a quero por perto. meus gatos me esquentam inverno adentro. são sinceros e, se voltam, é porque querem voltar e, se um dia não puderem voltar, basta - pra mim - saber que eles adorariam estar ao meu lado. bastava saber que ela queria, embora não pudesse, mas ela nunca quis, nunca pode. dei um sentimento do tamanho dos andes, tão grande que explodiu, não pude evitar. era algo que nunca tinha vivido. também não soube agir. se eu tivesse encostado, em silêncio, a teria perto e, certamente, não estaria tão triste. mas a mandei pra longe, escrevi o pra sempre numa história que nunca começou. equivocada, ansiosa, destroi, sozinha, minhas esperanças que já eram pequenas. se eu pudesse voltar ao passado, não a teria olhado, mas se isso fosse inevitável, faria tudo diferente para, pelo menos, seguí-la olhando por muito e muito tempo. parecia verdadeiro, vejo fotos de casais, é dia dos namorados (que ironia) e não vejo amor em parte alguma. eu o via nos meus atos, mesmo errados, na noite em que fiz de tudo para vê-la sorrir. guardarei meu único acerto com carinho. vou lembrar pra sempre da forma como ela me olhou, fechando os olhos... pra mim, é isso. pelo menos, hoje, nenhum sentimento ruim está comigo e sopro com o vento coisas boas à ela. vou seguir por aqui, talvez um dia passe, mas se não acontecer, ninguém mais saberá. ela só saberá se quiser saber, se vier até aqui e ler. e, se ela vier, deixo registrado que não tenho vergonha das minhas falhas e nem da minha caligrafia feia. tudo que eu senti, eu falei, eu escrevi...foi pra ela que dediquei o maior sentimento, que não desejo nomear, que já vivi. estou em paz, pois a tristeza machuca, mas minha consciência está tranquila. aconteceu uma revolução em mim e, acredito, teria acontecido de qualquer forma: mesmo que eu sufocasse, nada permanece escondido por muito tempo. criei a bomba atômica, não há mais passarinhos e nem árvore para serem derrubadas, o rio está impróprio para banho, ela não veio, nunca virá e, temo, ninguém mais virá. quem desejaria viver em um deserto?



Nenhum comentário:

Postar um comentário