quarta-feira, 23 de outubro de 2013

in

Doeu-me como um soco na boca do meu estômago farto
E coberto dessa pele branca
De veias por onde corre um sangue colonizador
Nada me envergonha mais que a miséria
Cada alienado insensível
É um tiro em meu peito
Que abriga um coração frágil demais
Para ver tanta dor

                                  Me dizem asneiras, eu reclamo mesmo sendo uma privilegiada
A fome mata a mingua, são crianças, idosos.
Balas de um exército de mãos sujas
Que atiram em sonhos
Tantos olhos... puxados, pretos, cor de mel
Como se um monstro viesse e pisasse na inocência
Meu banho quente, minha cama
Tudo me agride profundamente
Quantos niños mueren por mi?
Quantos gritos de desespero
Saltam aqueles que sustentam minha fartura?

Meu sapato não é costurado pela bondade de uma criança
E o teu?
Sento-me na defensoria e defendo o óbvio
Agradecem-me, como se eu fizesse muito.
Cada ruga que vejo em minha frente
É o contorno da exploração
Eu exclamo, espantada, ainda sim são bons!
Errado é o homem que fala em ganância
Como se essa doença fosse intrínseca a todos.

Ouço a gaita...

Tenho em mim todas as dores do mundo

Como podem viver como se tudo estivesse bem???
Os índios, os negros foram escravizados.
Pé na porta do laboratório de experimentações animais.
Não se trata nem bicho assim, cara pálida!
Olhos azuis, verdes – depois de estuprar, matar, queimar – libertaram.

Tenho em mim todas as dores do mundo

Que tristeza as coisas todas valendo mais que um aperto de mão
A carteira valendo mais que o abraço...
Pobre batendo em pobre...
Que cegueira, caramba!
Uma minoria destruindo tudo
Uma porção média achando que vive bem
E a massa sustentando seu próprio genocídio.
Desculpem-me, não sou como eles!
Não sei mais o que fazer para não ser como eles.
Tenho em mim todas as dores do mundo...

E a ânsia da náusea por não poder fazer nada

Nenhum comentário:

Postar um comentário