quarta-feira, 24 de outubro de 2012

pôr do sol no outono


Eu escorro entre teus dedos diariamente
Entre teus anéis de ouro que não oxidam,
 Mas – no meu coração- há ferrugem.
Vejo o noticiário, olho na minha volta,
Existe alguém como eu?
Talvez tu nem saibas ainda
Eu posso te emprestar meu bisturi
Essa cirurgia só pode ser feita por nos mesmos
E demora.
Entretanto, eu sou capaz de te esperar.

Abra a janela e deixo o sol iluminar tua casa
Apague a televisão, desconecte a internet
Caminhe pelo corredor de olhos fechados
Teu cansaço me corrói
Todas as coisas que tens
Coloque no lixo ou doe para alguém
Tudo que precisas começa com a letra A.
Pedale no gasômetro vendo o sol se pôr
Com o tempo, conseguirás voar.
Teus pés delicados merecem a grama bem mais que esses sapatos caros
Isso só te machuca
Tire os cintos que apertam tua cintura e te moldam
Tua perfeição se dá na imperfeição do teu corpo
Todos os teus detalhes, eu admiro.
Os movimentos da tua boca, a forma como a entortas para sorrir.
Eu preciso de tão pouco para ser feliz
Se teus olhos me vissem com mais de frequência
Se tu os apertasse sorrindo para mim
Me passando qualquer tipo de afeto todos os dias...
Mas a realidade é outra.
E se eu não fosse eu, também não te daria o que queres.
Não usaria gravata e nem esmagaria ninguém por cifrões sem valor
Talvez eu peregrinasse pela África
E transcendesse todo esse amor para alguma causa
Que me fizesse ter, pelo menos, a sensação de que a minha vida não é vã.

Meu pênis emborrachado não é capaz de entrar na competição
Tão pouco eu quero competir.
Eu percebo a deslealdade que há
A pele, nesse caso, é artificial, carece de humanidade.
Minha borracha laranja é bem mais humana.

As crianças sem sapato pela rua são livres
O preço da liberdade é uma vida cheia de riscos e curta
Liberdade não se compra, nena!
O dinheiro é ilusório, dá a sensação de independência, mas só diante das pessoas.
Cada vez mais nos tornamos dependente de coisas.
Eu dirigiria pela America latina no meu carro
Se eu não o tivesse, perderia Caracas.
Perco muito não me adaptando...

De qualquer forma, não estarei ao teu lado.
Todos os pontos de vista, todas as premissas,
Me levam adiante, pra longe de ti.

Minha mão permanece estendida
Mas meu trem já passou pela tua estação!
Se abrires os olhos, me verás no último vagão.
Abra os olhos e vem comigo...
Tudo valeria a pena se tu viesses comigo...
Contigo, minha alma não é pequena!
Minha tristeza é arrebatadora
Nem se eu me submetesse ao diabo da modernidade,
Seria o que desejas.

Eu preferiria ter morrido na dúvida
Do que viver com essa certeza que me mata, baby!
Mesmo assim, ainda assim, eu optaria ver teus olhos de novo e de novo,
como se fosse a primeira vez ou a segunda, mas nunca a última.
Eu percebo a força do que sinto
Quando penso em implorar a deus para que tu venhas ficar comigo.
O desespero da dor
Assemelha-se aos torturados que imploram a morte.
O eco só não funciona contigo.
Bate tua parede de aço e volta amor de mim, pra mim e não por mim.

Dizem que alguém me libertará desse tormento.
Que tormento? Me pergunto.
Te amar é bom, nena, te ver tão pouco é que me mata.
Dá vontade de regredir, de retroagir.
Eu, réu, não tenho esse direito?

Não aguento mais chorar...

Que cor são teus olhos? São castanhos avermelhados ou cor de mel?
São da cor do sol se pondo no outono.

Como eu tenho escolha e posso me abrigar do frio, da chuva,
Tenho o privilégio de odiar o verão e o odeio, sim.
Viver sem ti é um eterno verão de 45º no asfalto.
Tudo queima, nada resolve, por mais que nos acostumemos a dormir suando,
Ás vezes o calor causa a insônia.
Eu me ardo diariamente por ti.

Nem em sonhos mais tu me visitas...
E dizem que os sonhos são o andamento dos pensamentos diários.
Eu não entendo.
O dia começa e tu estás comigo.
Estás sempre comigo, dentro de mim,
E permanecerás...

Thais Dornelles

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