domingo, 15 de julho de 2012

Tudo dentro do teu não!


Eu quero me afogar na merda. Ser esquecida e me esquecer de mim, dos meus pensamentos otimistas que masturbam minha mente e me fazem acariciar essa esperança maldita de que um dia virás. Eu quero uma bebida amarga ou doce, tanto faz. Um corpo branco ou negro ou pardo ou...um corpo pra me esquentar. Uma boca macia tocando os meus seios. Eu quero seios nas minhas mãos, desejar seios, muitos seios e os teus, não! Eu quero me deitar na grama molhada do sereno, não sentir frio, não sentir medo. Ver a lua aparecer no canto do céu, me ignorar e depois sumir novamente. Ver o sol levantar pra depois dormir. Eu quero um barulho infinito que não me deixe ouvir meu nome, teu nome. Eu quero um homem, alguém, algo que me faça te esquecer infinitamente, eternamente. Eu quero dobrar a esquina, virar a página, rasgar a página, cuspir na página, por no lixo a página que tem como marca d´água teus olhos, tua boca, tua perfeição atormentadora, tuas palavras precisas que falam sempre o que quero ouvir sobre o mundo e nunca o que preciso ouvir de ti. Eu quero matar, morrer pra ver se, assim, tua estrutura de aço, de ferro balançaria. Eu quero me ajoelhar e implorar, crer no deus imaginário, fazer promessas e ter a chance de cumpri-las. Eu quero o direito, o justo, não quero a bondade, não quero a gratidão, não quero a caridade. Eu quero a solidão extrema da companhia fajuta, a distração. Quero qualquer coisa que segure o peso dos meus dias, a dor ínfima da tua ausência na minha vida. Quero chorar, se for pra chorar. Uma lágrima salgada, igual a todas as lágrimas que caem de todos os olhos que choram. Eu não quero essa gota vermelha, que corta meu rosto e é solitária. Não aguento mais, nega! Não suporto mais! Não quero mais, não, não, não...eu poderia ter me solidarizado com os loucos que morrem de amor, que matam por amor, que amam de verdade, mas não queria ser um deles. É tanta submissão! Submissão ao tempo, à imposição desse sentimento. Eu quero cerrar as grades do meu peito, ver um sorriso e sorrir, segurar numa mão qualquer e partir. Eu quero um trem de trilhos incertos, mas que viaje pra longe, bem longe de ti. Eu quero ter a coragem de entrar nesse trem. Te liberto hoje, cavalo selvagem, cavalo xucro que negou minha maçã colhida do pomar de um homem humanista e solitário que toca violão e canta pras plantas e os animais e não teme a solidão das grandes metrópoles. Vai, corre pelos campos, sente o cheiro das flores, morde o vento na cara. Eu tiro de ti o peso do arreio, do pelego, do meu sofrimento por não ter te convencido a ficar comigo. Vai! Alguém com mais paciência, alguém com mais maturidade te oferecerá açúcar cristalizado e eu torço que aceites. Eu abro os portões, arrebento as cercas, jogo longe as esporas, jogo longe os lençóis que camuflam meu ego, minha vaidade ferida. Quero que teus cabelos negros e compridos voem mais que uma andorinha e teus olhos expressem a felicidade que senti quando vi uma laranjeira linda, me aproximei e me ergui para alcançar a fruta que sempre desejei.  Foi em vão! Foi em vão?  A vida me colocou freios e ferraduras, hoje sou cavalo de passeio, de carruagem de contos de fadas. Levo pessoas para suas estradas, montam em mim e eu aceito. Dizem que eu mudo vidas. Dizem que eu ajudo, que arranco segredos escuros, olhares de dúvida. Eu sigo, então, esperando ...espero o dia, espero a noite, espero os anos passarem, espero esquecer que eu era indomável, grande domadora, que eu era a opressora e agora sou a submissa. Espero o par de olhos, um de cada cor, que vai me libertar desse fracasso, desse tédio, dessa dor do teu não. Eu não queria alguém que me transformasse, que me levasse a loucura? Ta aí, tá ela, tô eu, Thais. Sem plural porque nosso nome não tem plural. Casaremos com a solidão, nena! Tu porque permanecerá selvagem, intocável. Eu porque te conheci e depois que te vi, nada do que vi ou verei, ou tinha vista, foi, é, será mais lindo que teu olhar. A palavra pra sempre é forte, eu sei. E tudo passa, realmente passa. Só não passa o que fica pra sempre, o que muda pra sempre, tudo pode mudar, menos as paixões. Todos serão esquecidos, menos aqueles que nos mostraram o que realmente tem sentido nessa vida!

Thais Dornelles

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