Eu quero me afogar na merda. Ser esquecida e me esquecer de
mim, dos meus pensamentos otimistas que masturbam minha mente e me fazem
acariciar essa esperança maldita de que um dia virás. Eu quero uma bebida amarga
ou doce, tanto faz. Um corpo branco ou negro ou pardo ou...um corpo pra me
esquentar. Uma boca macia tocando os meus seios. Eu quero seios nas minhas
mãos, desejar seios, muitos seios e os teus, não! Eu quero me deitar na grama
molhada do sereno, não sentir frio, não sentir medo. Ver a lua aparecer no
canto do céu, me ignorar e depois sumir novamente. Ver o sol levantar pra
depois dormir. Eu quero um barulho infinito que não me deixe ouvir meu nome,
teu nome. Eu quero um homem, alguém, algo que me faça te esquecer
infinitamente, eternamente. Eu quero dobrar a esquina, virar a página, rasgar a
página, cuspir na página, por no lixo a página que tem como marca d´água teus
olhos, tua boca, tua perfeição atormentadora, tuas palavras precisas que falam
sempre o que quero ouvir sobre o mundo e nunca o que preciso ouvir de ti. Eu
quero matar, morrer pra ver se, assim, tua estrutura de aço, de ferro
balançaria. Eu quero me ajoelhar e implorar, crer no deus imaginário, fazer
promessas e ter a chance de cumpri-las. Eu quero o direito, o justo, não quero
a bondade, não quero a gratidão, não quero a caridade. Eu quero a solidão
extrema da companhia fajuta, a distração. Quero qualquer coisa que segure o
peso dos meus dias, a dor ínfima da tua ausência na minha vida. Quero chorar,
se for pra chorar. Uma lágrima salgada, igual a todas as lágrimas que caem de
todos os olhos que choram. Eu não quero essa gota vermelha, que corta meu rosto
e é solitária. Não aguento mais, nega! Não suporto mais! Não quero mais, não,
não, não...eu poderia ter me solidarizado com os loucos que morrem de amor, que
matam por amor, que amam de verdade, mas não queria ser um deles. É tanta submissão!
Submissão ao tempo, à imposição desse sentimento. Eu quero cerrar as grades do
meu peito, ver um sorriso e sorrir, segurar numa mão qualquer e partir. Eu quero
um trem de trilhos incertos, mas que viaje pra longe, bem longe de ti. Eu quero
ter a coragem de entrar nesse trem. Te liberto hoje, cavalo selvagem, cavalo xucro
que negou minha maçã colhida do pomar de um homem humanista e solitário que
toca violão e canta pras plantas e os animais e não teme a solidão das grandes
metrópoles. Vai, corre pelos campos, sente o cheiro das flores, morde o vento na cara. Eu tiro de ti o
peso do arreio, do pelego, do meu sofrimento por não ter te convencido a ficar
comigo. Vai! Alguém com mais paciência, alguém com mais maturidade te oferecerá
açúcar cristalizado e eu torço que aceites. Eu abro os portões, arrebento as
cercas, jogo longe as esporas, jogo longe os lençóis que camuflam meu ego,
minha vaidade ferida. Quero que teus cabelos negros e compridos voem mais que
uma andorinha e teus olhos expressem a felicidade que senti quando vi uma laranjeira
linda, me aproximei e me ergui para alcançar a fruta que sempre desejei. Foi em vão! Foi em vão? A vida me colocou freios e ferraduras, hoje
sou cavalo de passeio, de carruagem de contos de fadas. Levo pessoas para suas
estradas, montam em mim e eu aceito. Dizem que eu mudo vidas. Dizem que eu
ajudo, que arranco segredos escuros, olhares de dúvida. Eu sigo, então,
esperando ...espero o dia, espero a noite, espero os anos passarem, espero
esquecer que eu era indomável, grande domadora, que eu era a opressora e agora
sou a submissa. Espero o par de olhos, um de cada cor, que vai me libertar
desse fracasso, desse tédio, dessa dor do teu não. Eu não queria alguém que me
transformasse, que me levasse a loucura? Ta aí, tá ela, tô eu, Thais. Sem plural
porque nosso nome não tem plural. Casaremos com a solidão, nena! Tu porque
permanecerá selvagem, intocável. Eu porque te conheci e depois que te vi, nada
do que vi ou verei, ou tinha vista, foi, é, será mais lindo que teu olhar. A
palavra pra sempre é forte, eu sei. E tudo passa, realmente passa. Só não passa
o que fica pra sempre, o que muda pra sempre, tudo pode mudar, menos as
paixões. Todos serão esquecidos, menos aqueles que nos mostraram o que realmente
tem sentido nessa vida!
Thais Dornelles
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