domingo, 5 de maio de 2013

delirante

esse sereno da madrugada
minha voz rouca
meus traços deformados da febre

minha boca costurada
essa imagem no espelho que desconheço

um eco alto ensurdecendo
uma alma oca
vazio, casa sem móveis
delírio do alcool
medo da solidão
ele me diria que eu cavei meu próprio buraco
essa dor sórdida e fiel que não abandona

minha lingua dormente, sentindo mil gostos
sem sentir absolutamente nenhum

meus dedos tarados
esse desejo em rasgar tuas roupas
te ver de olhos bem fechados
esse sussurro que nunca veio

essa espera

seja o que for, essa esperança maldita
de que o dia amanheça diferente

esse sonho desconecto
jogado num canto, esquecido por todos

eu abro meus olhos
de imediato, me remetem teu rosto

essa poesia que não toca
que destrata, que agride

essa perturbação medonha

uma conta zerada, um ano que não passou

minha planta morta
essa desatenção

o gato no telhado mia a vida
(eu fecho a porta)
a morte fala meu idioma

sangro

uma hemorragia que não finda
pelo chão, escorrem pedaços

essa parede invertida, de cabeça pra baixo
duas mãos,
essas unhas roidas

essa minha ruina

ouço vozes, mandam-me ter calma
- mas como - eu grito - eu tenho alma!?

esse suspiro que não puxa ar

um limite invisível
até onde se vai?

eu arremesso pro céu com toda a minha força
tranco os pés no inferno pra não ir

esse cotrato oneroso

essa lei intocável, clausula pétrea
rasgo, invoco o poder constituinte
a onda gigante arrebenta a pedra, mas não fura

pra onde vão os pássaros esse ano?
sempre pro mesmo lugar

mês que vem eu pago as contas
renasco, firme e forte

agora, enfio o cano na boca,
e como uma bala

não estava, não estou e não posso ir

onde estão as cores desse filme cinza?

critico e convenço

não mais!

nem eu me elejo
voto em branco

assino teu despejo, reconheço firma

essa cama tão desarrumada
é o reflexo do meu coração






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